LONDRES - O mapa da Groenlândia terá que ser redesenhado. Uma nova ilha surgiu em sua costa, repentinamente separada da Groenlândia por causa do derretimento da cobertura de gelo. Cientistas estão considerando o fenômeno um dos mais alarmantes sinais das mudanças causadas pelo aquecimento global.
Com alguns quilômetros de extensão, a ilha era considerada a ponta de uma península localizada na parte superior da remota costa leste da Groenlândia, mas uma grande geleira que a ligava ao continente derreteu completamente, deixando-a cercada pelas águas do Oceano Ártico.
Com o formato de uma espécie de mão de três dedos, a ilha foi descoberta pelo veterano explorador americano Dennis Schmitt, um especialista na região. Ela a batizou de Warming Island (Ilha do Aquecimento) ou Uunartoq Qeqertoq, no idioma esquimó.
O Centro de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos confirmou a existência da ilha através de uma série de fotos de satélite. Elas mostram como ela era uma parte integral da região costeira da Groenlândia até 1985; aparecendo ligada à terra apenas por uma pequena ponte de gelo em 2002; e surgindo completamente separada nos verões de 2005, 2006 e 2007. Agora, ela é um pedaço de terra independente, com picos e formações rochosas, se projetando verticalmente em direção ao mar.
Como demonstraram as fotos, a ilha foi o resultado de uma poderosa, rápida e inegável transformação. Sua existência simboliza os iminentes efeitos das mudanças climáticas no planeta, dizem cientistas.
O surgimento da Ilha do Aquecimento está sendo considerado um dos exemplos mais contundentes da desintegração da cobertura de gelo da Groenlândia, um fato que os cientistas só perceberam recentemente e que está acontecendo mais depressa do que se poderia imaginar. Dona da segunda maior concentração de gelo do planeta, atrás apenas da Antártica, a Groenlândia é a maior ilha do mundo. Se os seus 2,5 milhões de quilômetros cúbicos de gelo derreterem por completo, o nível do mar subirá cerca de sete metros.
Essa elevação seria suficiente para inundar boa parte das cidades costeiras do mundo. O mar alagaria também países densamente povoados, como Bangladesh, e causaria o desaparecimento de ilhas como as Maldivas. Mesmo um décimo dessa elevação do nível do mar já teria conseqüências devastadoras.
No momento, a elevação global é de aproximadamente três milímetros por ano, que foi a média registrada entre 1993 e 2003. Isso é bem mais do que a média entre 1961 e 2003, que foi de 1,8 milímetro por ano. A Groenlândia contribui com 0,5 milímetro desse total. Até pouco tempo, acreditava-se que rupturas em sua cobertura poderiam levar mais de um século para acontecer, mas estudos recentes, realizados a partir de 2004, mostram que elas já estão acontecendo e de forma acelerada.