terça-feira, 29 de maio de 2007

Seu dinheiro vai acabar

29.05.2007 - Você anda sem dinheiro? Abre a carteira, inspeciona todos os bolsos e... nada? Existe um modo positivo de encarar essa situação: em relativamente pouco tempo, ninguém mais vai ter dinheiro. Pelo menos do jeito como o conhecemos hoje.

É uma tendência que já era clara e irreversível. Mas que virou um fato histórico quando a respeitadíssima revista The Economist colocou na sua capa uma colagem de moedas formando dinossauros. A chamada dessa capa não deixou dúvidas: “O fim do dinheiro”.

Não estamos falando do dinheiro como instituição e meio de trocas entre os seres humanos. Isso continua. Para deixar claro, aí vai uma definição igualmente respeitada do que entendemos por essa coisa também conhecida como “grana”, verdinha”, “o danado”, “l’argent”, “bufunfa”, “dindin” e “arame”:

“Dinheiro – mercadoria aceita por consenso como meio de transação econômica. É o meio no qual os preços e os valores são expressos. Como moeda, circula anonimamente de pessoa em pessoa e de país em país, assim facilitando o comércio e é a principal medida da riqueza.” ( Encyclopaedia Britannica)

Essa definição vai continuar valendo. O que está mudando radicalmente é o formato desse dinheiro. Vivemos a maior revolução nesse sentido em mais de 3 mil anos. O fim do dinheiro significa o final da era de notas e moedas e também do velho cheque, que os brasileiros usam até para pagar gorjeta.

O dinheiro está ficando invisível, volátil, não palpável. Está se digitalizando, como tudo mais em nossas vidas. E com a digitalização vem a praticidade.

Não tem mais cabimento ficar numa cabine de caixa automática, apavorado com a possibilidade de um assalto, esperando que uma máquina leia nossas senhas e nos devolva o que já nos pertence. Ou quebrar o pau com um motorista de táxi por falta de troco. Isso tudo está mudando. E, no geral, para muito melhor.
...

O PAPEL-MOEDA SOME
A questão: quem precisa de um maço de notas na carteira?
Elas acabam. Elas atraem ladrões. Elas se perdem.
Elas precisam de troco. Elas estragam. Elas rasgam.
Elas acumulam germes e bactérias. Elas dão na vista.
Elas não têm volta. Perdeu, perdeu. Tchau. Bye.

O dinheiro eletrônico nasceu basicamente na década de 1950 com os bons e velhos cartões de crédito. Não eram ainda digitais, mas já eram de plástico. Cabiam no bolso da camisa. Representaram uma grande mudança. E continuaram evoluindo e facilitando o comércio internacional.

O cartão de crédito levou ao cartão de débito. E começou a chegar um momento em que você gasta mais vezes passando um cartão num terminal do que puxando notas da carteira. Os cartões de débito prepararam a maior parte da população para o próximo passo.

Nessa fase, que está acontecendo agora, o papel-moeda some. O importante é seu crédito, o que você tem para gastar. Se você está empregado, com toda certeza o seu salário é um número que você visualiza num monitor, sem nenhum tipo de contato físico. (As pessoas já enfrentaram imensas filas de banco para receber seus salários.) Se você anda de ônibus ou metrô, aproxima um cartão magnético de um leitor e está debitado. Sim, o proletariado brasileiro já aderiu ao dinheiro digital e faz tempo. O formato do dinheiro, enfim, não importa mais. E ele tem se vestido cada vez mais como um aparelhinho que quase todos nós possuimos.

DINHEIRO NO CELULAR
Milhões de japoneses (e austríacos, entre outros povos) já saem de casa sem dinheiro, cheque ou cartão. O crédito que ele precisa está num chip do celular. O cidadão entra num terminal de trem e não fica em fila de bilheteria nem mesmo põe a mão no bolso. Cada passageiro é liberado para entrar na plataforma (um passageiro por segundo) simplesmente porque carrega seu cell phone abastecido de ienes no bolso. O débito aparece no visor e é confirmado pelo som de um plin de caixa registradora.

O irônico é que esse método “sem dinheiro visível” foi amplamente implementado no Japão, país onde crimes e assaltos virtualmente não existem. Seria um luxo de Primeiro Mundo então? Aí vem a segunda ironia: o sistema está sendo implantado com grande sucesso em países da África! O chamado continente negro queimou várias etapas tecnológicas e mal passou pelo telefone fixo. Foi direto para o celular, e com o celular ganhou o moderníssimo e-money.

Quem ganha com ele? Compare com o processo tradicional: puxar a carteira do bolso, escolher notas (de olho em possíveis manos das redondezas), entregar as notas, esperar o troco, que talvez não exista e tenha que ser pedido na padaria da esquina. Já as transações eletrônicas podem demorar um décimo de segundo.

E tem a segurança. Dinheiro eletrônico é bloqueável, anulável, controlável por extratos on-line. E exige menos funcionários de quem o recebe, o que gera descontos e produtos mais baratos. Vai causar desemprego? Não para quem souber se adaptar aos novos tempos. É o caso da PayPal, a maior empresa de transações eletrônicas do mundo, com 120 milhões de contas em 100 países. Nela o mundo troca dinheiro e mercadorias com cliques do mouse. Só em 2006, 37,8 bilhões de dólares foram movimentados desse jeito. Pessoa a pessoa, sem interferência.

O que nos leva a outra boa notícia sobre o dinheiro eletrônico. Com ele, o poder absoluto dos bancos vai diminuir cada vez mais. Eles são hoje as únicas instituições que intermedeiam transações monetárias entre os cidadãos. Na nova realidade, isso acaba. Os bancos continuarão existindo, mas terão a concorrência de empresas telefônicas, de administradores de chips magnéticos etc. E, com a concorrência, você sabe: caem os preços cobrados nos bancos, cai a burocracia, cai o poder absoluto do atendente do outro lado da linha. A The Economist dá uns 15 anos para que o papel-moeda seja declarado oficialmente extinto. Deixa claro que sempre existirão nichos menos informatizados em que ele continuará a reinar. Mal comparando, o dinheiro de papel tende a virar uma espécie de disco de vinil. E sempre haverá os reacionários, para os quais nada substituirá o prazer de tirar uma nota de 100 crispando da carteira.

Para o resto de nós, vai importar cada vez menos saber quando saímos de casa se temos cash na carteira ou aqueles pesados círculos de metal que valem quase nada. Com o tempo, estaremos como os japoneses (e alguns africanos): preocupados apenas em levar o celular no bolso.

Fonte - VIP


Nota DDP:
"Com a digitalização vem a praticidade."
Como sempre um enorme laço vermelho para enganar os menos atentos. As vantagens são todas colocadas com grande alarde, afinal de contas no mundo caído em que vivemos elas se constituem em significativa minoração de riscos mesmo, no entanto, o que ninguém debate, é que em um mundo economicamente virtual, além do controle intrínseco que o mesmo supõe, de tudo, de todos e que em grande parte já é nossa realidade, é inequívoca a possibilidade da pessoa dormir rica e acordar pobre, no melhor estilo do filme "The Net", com Sandra Bullock.

Ap 13, 16-17
Conseguiu que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão direita e na fronte, e que ninguém pudesse comprar ou vender, se não fosse marcado com o nome da Fera, ou o número do seu nome.
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