Por CAMILO VANNUCHI E
LENA CASTELLÓN
A Igreja Católica brasileira está no centro de um movimento consistente e acelerado de retomada da sua força. O ponto alto da reação, que começa a devolver o entusiasmo a seus seguidores, é a visita do papa ao País, entre os dias 9 e 13 de maio, a primeira de Bento XVI a um país não europeu desde que ele assumiu o trono de São Pedro. A euforia do rebanho monumental, o maior da religião no mundo, estimado em 125 milhões de pessoas, é amplificada pelo anúncio da canonização de Frei Galvão como o primeiro santo brasileiro. Esses eventos fazem parte de uma cruzada evangelizadora feita com esforço e investimento de fiéis influentes, discussão teológica e, acima de tudo, trabalho diplomático nas altas instâncias de poder da Igreja, aqui e no Vaticano. Uma resposta à aparente incapacidade de modernização que, nos últimos anos, aumentou de forma preocupante a debandada de ovelhas. Em dez anos, seis milhões delas se desgarraram. E, basicamente, procuraram abrigo nos cultos fervorosos das igrejas evangélicas, que viram sua fatia de adeptos saltar de 6% para 10,6% da população do País entre 1991 e 2000. No mesmo período, os católicos encolheram quase dez pontos percentuais, de 83,3% para 73,8%. Quando a crise parecia inevitável, uma reação conduzida com brilhantismo pelo clero brasileiro permitiu a recuperação, culminando na festa que promete tomar conta do País neste semestre. Abalados com sucessivas denúncias de padres pedófilos e críticas ferrenhas aos dogmas ultrapassados da Igreja, os seguidores desfrutam das boas novas com o alívio de quem pode, enfim, recuperar o orgulho de ser católico.
A virada começou quando a cúpula de cardeais admitiu que a perda de carisma e da capacidade de seduzir novas mentes e corações estavam verdadeiramente comprometendo a imagem da instituição. E em função da importância do Brasil no universo católico, isso poderia trazer prejuízos estratégicos para o Vaticano em todo o mundo. Esse movimento de recuperação foi facilitado pelo fato de o alto clero brasileiro ter um espaço cada vez maior em Roma. Desde dezembro do ano passado, a prefeitura da Congregação para o Clero é ocupada pelo arcebispo emérito de São Paulo Dom Cláudio Hummes. Para se ter idéia, depois do papa, o cargo do brasileiro disputa a posição de segundo em importância no Vaticano com o de chefe da Congregação para a doutrina da Fé – que, por sinal, foi de Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, durante o papado de João Paulo II.
Dom Cláudio foi o principal responsável pela vinda do papa ao Brasil. Oficialmente, a viagem tem como pretexto a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que reunirá 270 bispos no Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, a partir do domingo 13 de maio. É tradição o papa abrir os trabalhos da conferência, um hábito criado em 1968. O brasileiro convenceu Bento XVI a realizá-la no Brasil. E Ratzinger escolheu Aparecida. Dom Cláudio também pediu ao papa que incluísse na agenda uma passagem pela capital paulista, e foi prontamente tendido.
O sucesso diplomático de Dom Cláudio pode ser medido pela avaliação do padre Geraldo Hackmann, único brasileiro na Comissão Teológica do Vaticano, sobre a importância estratégica da Conferência Geral. “Esse encontro vai determinar os rumos da Igreja no continente americano”, resume ele. “Realizá-lo aqui é um inequívoco sinal de prestígio para o clero brasileiro”, completa. O teólogo Antônio Miguel Kater Jr., coordenador do Instituto Brasileiro de Marketing Católico, criado para municiar a Igreja com instrumentos de comunicação, chama a atenção para outros benefícios. “A visita de Bento XVI provocará um fluxo maior às igrejas. Isso certamente será usado em favor do catolicismo nos próximos anos”, aposta.Concluído esse xadrez diplomático para trazer o papa e a conferência – muito bem jogado pelos principais representantes brasileiros –, chegou a hora de os fiéis mostrarem que estão dispostos a fazer da visita do Sumo Pontífice um marco da ressurreição católica.
Fonte - Isto É