23.06.2007 - Reportagem da revista ISTOÉ, Junho 2007
Um problema leva a outro e, aos poucos, fica claro que as conseqüências do aquecimento global são piores do que imaginávamos. Vejamos o que declarou oficialmente na semana passada um dos homens que mais sofrem tentando solucionar essa fileira de problemas, Heitor Matallo, membro da Convenção das Nações Unidas para o Combate da Desertificação (UNCCD): “Há um ciclo em que um fenômeno alimenta o outro. Se o meio ambiente é degradado com desmatamento e erosão, os reservatórios de água diminuem, aumentando as áreas desertas.” Esse é um resumo do caos climático – curto e trágico. A alta temperatura que castiga a África e a China mostra-se devastadora no Brasil e na Argentina. “O caso da América do Sul é o mais alarmante. Até 2025 países como o Brasil perderão um quinto de suas terras produtivas”, diz Matallo.
A princípio, um quinto de terra pode não parecer muita coisa, mas palmo a palmo representa um rombo que muda seriamente as condições sociais e econômicas dos países envolvidos. Segundo dados oficiais da ONU, 1,5 milhão de quilômetros quadrados do território brasileiro é composto por áreas semiáridas e abriga cerca de 40 milhões de pessoas. A Argentina, com território de três milhões de quilômetros quadrados, tem 1,75 milhão deles coberto por deserto. A área semi-árida do Nordeste brasileiro, com o clima sujeito a freqüentes secas, vem aumentando com a degradação ambiental e as mudanças climáticas. O que preocupa os cientistas, agora, é o fato de saberem que é real a possibilidade de o planeta esquentar seis graus até 2050 – o que significaria o aumento de um milhão de quilômetros quadrados de área semiárida no Nordeste.
Do outro lado do planeta a situação não é menos crônica e grave. Na China, a desertificação avança a um ritmo de 1,3 mil quilômetros quadrados por ano, afetando diretamente cerca de 400 milhões de pessoas. O objetivo do governo chinês até 2050 é reflorestar todas as zonas desérticas. Segundo Zhu Lieke, subdiretor de Administração Estatal Florestal, são necessários US$ 31 bilhões para tratar as terras e torná-las novamente produtivas – o investimento atual, no entanto, é de apenas US$ 258 milhões por ano. Na África, a desertificação virou um alerta na boca do ministro argelino do Desenvolvimento, Sherif Rahmani: “Até 2025, 65 milhões de refugiados africanos baterão às portas do Ocidente.” Em tempo: dados da ONU da última semana revelam que anualmente 900 mil pessoas migram em todo o mundo por causa de secas. Em 2025 cerca de dois bilhões de pessoas viverão nos desertos.
Fonte - Portal Anjo