Por Alexandre Rubesam, de Londres em 12/6/2007
Os neuróticos de plantão [sic], temerosos das antiutopias Orwelianas com governos oniscientes, controladores e repressivos, já podem ficar tranqüilos. Já vivemos sob os atentos olhos do "Big Brother". Seu nome é Google e nós gostamos dele. Com sua missão de "organizar a informação mundial e torná-la acessível e útil universalmente" e seus lemas hippies, como "Don’t be evil", a Google vale hoje 150 bilhões de dólares, o que, desnecessário dizer, é um monte de zeros. Mas o que exatamente a Google faz, como eles "organizam a informação do mundo", por que invadem nossa privacidade nesse processo e por que nós gostamos?
A receita Google, apesar de tecnicamente complexa, é simples de explicar: armazene em computadores gigantes todas as informações de quem clicou onde, quantas vezes, quando, e vindo de onde. Armazene as buscas feitas em search engines (mecanismos de busca). Armazene e-mails. Coloque tudo num grande algoritmo, programado por uma porção de nerds do mundo todo, e adicione mais supercomputadores a gosto. Pronto, a Google "organizou a informação do mundo" pra você.
A sua procura por emprego, bens de consumo, pacotes de turismo, investimento, sexo, evolução espiritual e a letra em japonês do tema de Jaspion se reduziram a alguns links organizados numa ordem impressionantemente relevante e alguns anúncios dirigidos. Neste processo, as empresas que tiveram seus anúncios clicados pagaram à Google. Simples assim. Para facilitar a vida deles, a Google criou o Gmail, para ler diretamente o seu e-mail.
Anúncios geram receita
Não que o conceito seja novo. Bancos e outros setores já têm usado os dados dos clientes e técnicas estatísticas para avaliar a chance de um cliente comprar ou cancelar um serviço há anos, o que resulta naquelas aprazíveis ligações da sua companhia telefônica ou do seu banco, oferecendo-lhe um serviço à la "no caso, senhor, nós vamos estar te oferecendo este produto totalmente grátis por um mês".
A inovação da Google – uma grande inovação – foi desenvolver um sistema em tempo real para entregar anúncios dirigidos ao que a empresa imagina ser a sua intenção ao realizar uma busca. Quando você faz uma busca por "hotéis Londres", a Google sabe que você, potencialmente, vai desembolsar uma grana e ela vai tentar fazer com que os clientes dela sejam a contraparte.
Implícitas neste modelo estão duas suposições. A primeira é a do consumismo: somos definidos pelo que consumimos. A segunda é a de que concordamos em deixar a Google usar nossos dados pessoais (quando você instala um aplicativo Google, há um disclaimer típico dizendo que a Google "não fornece seus dados pessoais a terceiros, a não ser da maneira descrita na política de privacidade Google").
Recentemente, a Google diversificou seu negócio com outros produtos (Google Apps, Google Gears, calendário, Gmail, Google Maps, Google Earth – a lista não pára de crescer) e sites (a Google comprou o YouTube por uma fortuna, mesmo sabendo que haveria litígio devido à quebra de direitos autorais que o site representa; o site Blogger, onde, no caso, este blog está hospedado, também pertence à companhia). Apesar disso, os anúncios ainda geram grande parte da receita da empresa.
Invasão da privacidade?
Dos novos negócios, o que a Google está se empenhando mais em vender (e o mais interessante, de acordo com o CEO Eric Schmidt) é o Google Apps, uma espécie de Office online, acessível de qualquer lugar, e que representa competição direta com a Microsoft (o que ninguém acha ruim, talvez nem mesmo a Microsoft). O aplicativo é grátis, como todos os outros, para usuários comuns. Para empresas, é uma alternativa mais barata do que os produtos Microsoft. Embutido nesse produto está um novo conceito de computação, no qual a maioria dos serviços será online, com o processamento feito em servidores, e não no computador do usuário.
Para agradar aos troianos, há o recém-saído-do-forno Google Gears, um add-on para o seu browser que vai funcionar também offline. A Google, ao contrário da Microsoft, percebeu que o usuário comum não quer gastar 400 dólares numa infinidade de programas cujos espetaculares recursos ele nunca vai usar.
Quando o Gmail foi lançado (em abril de 2004), houve um tremendo bafafá, já que a Google ia ler o seu e-mail diretamente. Um processo foi movido para banir o serviço. Hoje todo mundo tem. O Google.com (ou qualquer outro site de buscas) guarda cookies permanentes que registram um ID da sua máquina, o seu IP, a data e hora da busca, o termo buscado e a configuração do seu browser.
Por que as pessoas querem ter seus e-mails lidos, e suas particularidades registradas e escrutinadas? Porque nós gostamos da eficiência. Gostamos de planejar todas as etapas de uma viagem, da escolha do local até a compra das passagens, reserva do hotel e aluguel do carro com a maior velocidade. Sobra mais tempo para nos perdermos no Orkut (que também é da Google), ou para fazermos buscas tolas no Google.
Quem é você?
Mas não há um risco de a Google deixar alguém que não deve abrir as nossas caixas de pandora individuais? Claro que o risco existe. Entretanto, o maior ativo da Google é a confiança dos usuários na maneira como eles lidam com nossos dados pessoais. O medo justificado de ter nossa privacidade exposta é contrabalançado por um simples fato. Se eles deixarem nossos dados caírem em mãos erradas, o modelo de negócio deles desmorona e, portanto, não é provável que isso aconteça intencionalmente. Além do que, lembre-se de que a Google invade a sua privacidade mas não conta para ninguém – afinal de contas, eles não são malvados.
A Google só conta os seus desejos mais íntimos para a empresa que quer te vender algo que você quer comprar. Mas a quantidade imensa de informações pessoais que a Google detém é motivo de preocupação. O site Google Watch tem uma lista impressionante de artigos dizendo por que a
Google deve ser vigiada.
Tal é o dilema do nosso mundo digital. As máquinas controlam tudo, tornando a vida muito mais fácil, e de graça. Mas não existe almoço grátis: se queremos tudo instantaneamente em alguns cliques, temos que dar algo em troca. Mas neste processo, será que não estamos invertendo os papéis? Eu me pergunto como se fazia no passado, quando se tinha uma dúvida daquelas, do tipo quais eram as sete maravilhas do mundo antigo, qual o nome da mulher do Rocky, ou quando queríamos achar a letra em japonês do tema de Daileon. Éramos tão infelizes...
Hoje, qualquer dúvida, da questão de ortografia mais reles até o sentido da vida, é "googlada". O onipotente Google nos responde. Se não está no Google, não existe. Uma amiga minha tem como descrição no Orkut um link para uma busca do seu nome no Google. Quem é você? Pergunte ao
Google. Eu pergunto, vez ou outra.
Fonte - Observatório da Imprensa
Nota DDP:
Parece que os fatos cada vez mais corroboram o que os "neuróticos de plantão" já antecipavam em relação ao desmedido controle da informação. Estes mesmos "neuróticos", há muito vêm levantando também o que propicia este tipo de invasão e o controle que ela proporciona. Os fatos dirão mais uma vez se os "neuróticos" estavam certos ou não. Interessante como o escárnio aos "neuróticos" permanece mesmo quando há reconhecimento do mérito...
II Pedro 3:3 tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões
Apocalipse 13:16-17
A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome.