quarta-feira, 27 de junho de 2007

Desafio ao fim de semana islâmico

19/06/2007

A multinacional Mittal Steel provoca um terremoto na Argélia ao alterar os dias de descanso de seus trabalhadores

I. Cembrero

Em MadriLakshmi Mittal, presidente da Mittal Steel, a maior siderúrgica do mundo, provocou um terremoto na Argélia. A empresa argelina privatizada Ispat Annaba, que Mittal adquiriu em 2001, rompeu no final do mês um dos tabus mais enraizados na Argélia, o chamado popularmente de fim de semana islâmico, que inclui a quinta e a sexta-feira.

A Mittal Steel Annaba, como se chama agora a companhia, publicou no início do mês um comunicado anunciando a seus clientes, fornecedores e sócios que a partir de agora seus trabalhadores descansariam na sexta-feira e no sábado. Fez um gesto, mas não se atreveu a instaurar diretamente o fim de semana universal, no sábado e domingo.

Há 31 anos, o então presidente Houari Boumediene impôs o fim de semana islâmico de quinta a sexta-feira -este é o dia de oração para os muçulmanos- para marcar a especificidade de uma Argélia islâmica e progressista. Os outros países árabes que o adotaram foram renunciando um depois do outro. O último foi a Mauritânia, em 2005, e hoje ele só permanece na Líbia e na Arábia Saudita.

Para as empresas e os órgãos argelinos que mantêm relações com o estrangeiro, a defasagem entre um fim de semana e outro complica a existência. Eles só têm três dias úteis por semana (segundas, terças e quartas-feiras) para trabalhar com o resto do mundo, porque na quinta começa seu fim de semana e quando eles reabrem, no sábado, todos os demais iniciam seu descanso.

O comunicado da Mittal Steel animou a patronal argelina a renovar sua reivindicação. "É a solução mais inteligente; é um primeiro passo", afirmou Redha Hamiani, presidente do Fórum de Empresários, referindo-se ao anúncio da multinacional. "A reinstauração do fim de semana universal é nossa reivindicação", lembrou. Ele exortou as "empresas privadas a tomar a iniciativa sem esperar decisões oficiais".

Os empresários têm motivos para querer acabar com esse desajuste. A Sociedade Financeira Internacional, que depende do Banco Mundial, calcula que acarreta perdas entre 375 e 565 milhões de euros por ano para a economia, e um organismo local, o Conselho Nacional Econômico e Social, eleva a estimativa para 750 milhões. Outros estudos indicam que a Argélia perde até 3% de crescimento anual de seu PIB.

"Harmonizar os dias de trabalho e os de descanso com o resto do mundo é uma necessidade imperiosa" em um mundo globalizado, escreve o jornal "L'Expression" em um comentário sobre a decisão da Mittal Steel. "Na verdade não se precisa de toda a jornada para fazer corretamente sua oração de sexta-feira", acrescenta "Le Tribune", defendendo que esse dia também seja laboral, mas os muçulmanos piedosos teriam um momento para ir à mesquita.

A União Geral de Trabalhadores Argelinos, o sindicato ligado ao regime, e os partidos laicos são favoráveis à modificação do fim de semana, ao contrário dos movimentos de inspiração islâmica, que exercem uma forte influência, e do partido majoritário Frente de Libertação Nacional (FLN). O próprio presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, também não se mostrou receptivo.

Mas a idéia de um fim de semana misto como o aplicado pela Mittal Steel, que inclua a sexta-feira e o sábado, começa a ganhar terreno. "O que é importante realmente é manter a sexta-feira como dia festivo da semana", admitiu na semana passada pela primeira vez o porta-voz da FLN, Said Bouchemaine.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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Fonte - UOL - [Para assinantes]

Nota DDP:
Depois da manifestação de Israel favorável à recepção do domingo como dia de descanso, a porteira para estar se abrindo também no mundo islâmico. Interessante a afirmação: "Na verdade não se precisa de toda a jornada para fazer corretamente sua oração de sexta-feira", não é a idêntica desculpa para os que relativizaram o Sábado?

Maranata!
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