sexta-feira, 8 de junho de 2007

A eleição dos EUA e a fé e política


Jung Mo Sung *

A eleição para presidente dos Estados Unidos só ocorrerá em 2008, mas as disputas pelas candidaturas dos partidos democrata e republicano já estão a todo vapor. Uma das coisas que me chamou atenção nos debates na TV, ocorridos nos últimos dias, entre os postulantes de cada partido foi a íntima relação entre fé-religião e a política. Todos candidatos se proclamaram pessoas de fé e afirmaram que Deus tem um lugar especial nas suas vidas pessoais e também como políticos. Alguns chegaram assumir explicitamente que só Jesus é o salvador e que os princípios morais que deveriam guiar os Estados Unidos e o mundo são os revelados por Deus na Bíblia.


Há algum problema nesta íntima relação entre a fé-religião e a política? É claro que quem não gosta da política norte-americana tende a criticar o que seria uma "manipulação" da religião para fins políticos. Alguns até poderiam dizer que a arrogância do governo e da elite dos Estados Unidos em relação ao resto do mundo tem sua base nesta pretensão de representar a vontade de Deus no mundo de hoje. Mas, a relação entre a fé e política não é tão simples.
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Uma outra questão importante é a compreensão do que é a fé e a religião nesta relação entre a fé e política. Se as pessoas - como alguns candidatos nos Estados Unidos e outros líderes políticos e religiosos - acreditam que a sua religião tem a verdade absoluta sobre a vontade de Deus, é natural que elas se sintam no direito e na obrigação de propor e até mesmo impor estas verdades e valores morais para o seu país e para todo o mundo (se tiverem poder para isto). Afinal, o bem verdadeiro (o remédio para os males) faria bem mesmo que fosse contra a vontade do "doente". Esta tentação de se sentir "dono da verdade" não é um privilégio da "direita", mas de todas as pessoas e grupos que acreditam que há um único caminho verdadeiro para realizar o bem-comum e defender os verdadeiros interesses da maioria contra uma minoria tachada de egoísta, terrorista, exploradora ou mau-intencionada.
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Uma boa reflexão sobre a fé e política nos ajuda na crítica à pretensão e à arrogância da elite econômica e política norte-americana, assim como na nossa autocrítica para não reproduzirmos os erros que criticamos nos outros.


Jung Mo Sung. Professor do Prog. Pós-Grad. Ciências da Religião da Univ. Metodista de São Paulo. Autor de, entre outros, "A semente de esperança: a fé em tempo de crise".

* Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ. Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise


Fonte - Adital

DDP:
É cristalina a percepção de que poderão mudar as figuras, mas o quadro tendente ao fim permanecerá delineado pelos mesmos matizes. Mais do mesmo, aqui.
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