segunda-feira, 2 de julho de 2007

De volta ao passado

O papa Bento XVI autorizará nos próximos dias a celebração de missas em latim, numa concessão aos tradicionalistas que desperta preocupações em alguns setores, por retomar partes de uma velha liturgia que os judeus consideram anti-semita.

A liturgia latina foi abandonada na década de 1960 pelo Concílio Vaticano Segundo, que adotou as línguas locais numa tentativa de tornar o culto mais acessível. Após meses de especulações sobre a retomada da chamada missa tridentina, o Vaticano disse na quinta-feira que o papa encontrou clérigos de primeiro escalão na véspera para discutir "o conteúdo e o espírito" de um documento pontifício sobre o tema.

"A publicação deste documento, a ser acompanhada por uma carta pessoal completa do Santo Padre aos bispos em particular, é prevista para os próximos dias," disse nota do Vaticano. O diário católico francês La Croix disse que esse documento - chamado "Motu Propio" e redigido em latim, ainda a língua oficial do Vaticano - deve autorizar a volta do rito tridentino.

Atualmente, os tradicionalistas só podem celebrar missa em latim com autorização prévia de um bispo, e tal liturgia se tornou raríssima. O La Croix disse que a decisão do papa foi recebida com reservas na França, nos Estados Unidos e em outros lugares onde alguns bispos temem que sua autoridade seja abalada caso padres decidam por conta própria oficiar missas em latim.

Patrizia Parker, que assistia a um rito em latim na igreja de San Gregorio dei Muratori, em Roma, disse achar a liturgia antiga mais profunda. "Ela me dá uma sensação mais sagrada e me permite entrar no mistério da missa. Não é por causa das suas raízes históricas, e sim por um sentimento profundo dentro do meu coração."

Mas há preocupação de que a missa em latim desfaça os avanços das reformas de 1960, que conseguiram melhorar as relações entre católicos e judeus. O Concílio Vaticano buscou eliminar, por exemplo, preconceitos que atribuíam aos judeus a culpa pela morte de Jesus ao dar destaque às raízes judaicas do Cristianismo e afirmando que Deus ama também os outros credos.

Fontes eclesiásticas negam que a volta da velha liturgia atente contra as reformas, embora não esteja claro se as orações em questão, usadas principalmente nos ritos da Sexta-Feira Santa, seriam mantidas ou alteradas.

Em 2006, o Papa já havia provocado uma tensão inter-religiosa ao fazer um discurso na Alemanha em que citava um imperador medieval sugerindo um caráter violento do Islã.

(Terra)

Nota: Essa tendência de "volta ao passado" vai prosseguir. Quem viver verá.

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