Bento XVI tende a reforçar a interferência política da Igreja Católica no mundo e na Itália, ampliando o raio de ação atingido durante o pontificado de João Paulo II.
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Dias antes, na Itália, Ratzinger lamentara a ausência de verdadeiros católicos praticantes entre os políticos em geral e no próprio governo. Trata-se de manifestações que ofendem poucos e não surpreendem o mundo cristão, acostumado com as dubiedades de uma Igreja que diz preocupar-se com a saúde espiritual dos homens, mas na prática, age freqüentemente como poder temporal. E nem sempre a bem da humanidade.
Por exemplo. A Santa Sé, como paraíso fiscal, é muito mais segura que as Ilhas Cayman, e, se Daniel Dantas usufruísse de conhecimentos certos no Vaticano, com muitas probabilidades a Operação Satiagraha teria abortado ao nascer. O Instituto para as Obras de Religião, ou como todos o conhecem: IOR, este é o nome do banco do papa, que concede aos seus selecionadíssimos clientes juros mínimos de 12% ao ano, a garantia, além da segurança do capital, de proventos com risco zero, impensáveis no restante mundo ocidental, um anonimato blindado no caveau da torre onde se localiza a sede central do Instituto, com os seus 5 bilhões de euros.
Nos últimos 30 anos, o IOR esteve envolvido em todos os escândalos que assolaram a Itália, mas nunca nenhum juiz solicitou uma investigação, nem de rotina, para procurar compreender, caso houvessem, quais as responsabilidades dos banqueiros vaticanos. Não, não é uma ficção científica, mas apenas algumas revelações do La Questua, ensaio que há meses lidera as estatísticas de vendas na Itália, embora seja ignorado pela maioria dos mass media. No entanto, o volume é o fruto de anos de pesquisas realizadas por Curzio Maltese, jornalista investigativo do diário La Repubblica que há tempo indaga teimosamente sobre esses temas, batendo contra a parede de borracha das autoridades eclesiásticas.
Para compreender como seja possível o Vaticano ser um paraíso fiscal superior às Ilhas Cayman, ou por que um quarto dos imóveis de Roma é de propriedade do Vaticano, e totalmente isentos de impostos, ou ainda para verificar como o Estado italiano gasta muito mais para manter a Igreja do que com sua classe política, CartaCapital entrevistou o autor do best seller que daqui a alguns dias será publicado também na Alemanha, pátria de papa Ratzinger.
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CC: Quais mistérios?
CM: O IOR é responsável de todos os escândalos italianos, e não somente de uma das maiores trapaças do sistema bancário europeu, ou seja, a falência do Banco Ambrosiano. Porque, em seguida àquilo, houve Mani Pulite, com as porcentagens Enimont, e as falências Parmalat e Cirio. Até no futebol, quando houve o escândalo dos juízes debaixo da batuta do diretor-geral da Juventus, Luciano Moggi, dois anos atrás, aparece à sombra do IOR. Mas o IOR é ligado também à lavagem, principalmente do dinheiro da Máfia. Até há quem afirme que os grandes bosses de Corleone, Totò Riina e Bernardo Provenzano, investiram no IOF.
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CC: Mas o Vaticano e os bispos interferem de forma bastante pesada, nestes últimos tempos, quase todos os dias, na vida pública e na democracia italiana...
CM: Com toda certeza este é apenas um lado. Porém, por outro lado não aceitam nenhum tipo de indagação. A Igreja na Itália representa um poder que participa da vida democrática apenas do ponto de vista dos direitos, mas não dos deveres.
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CC: Voltando às relações entre alta finança e Igreja Católica, quais as ligações encontradas no decorrer da sua pesquisa?
CM: São muitas as pessoas próximas da Igreja Católica, ou mesmo ligadas diretamente, desempenhando papéis de grande relevância no mundo das finanças.
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CC: A razão?
CM: Porque com estes últimos se negocia melhor, mesmo porque, no fundo, não há nenhum envolvimento pessoal, mas se cria uma espécie de troca. O governo concede benefícios econômicos para a Igreja, para ter desta apoio político. É o que aconteceu pontualmente com o fascismo, em seguida nos anos 80, principalmente com os socialistas, e agora com Berlusconi. Não se trata de discutir princípios, e sim de mera troca de interesses, políticos de um lado, e econômicos do outro.
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Fonte - Carta Capital
Nota DDP:
A matéria chamou-me a atenção por conta de duas outras que recentemente circularam na mídia nacional:
Vaticano defende silêncio do papa sobre máfia italiana
O Vaticano defendeu neste domingo a decisão do papa Bento XVI de evitar uma condenação direta ao crime organizado durante uma viagem ao sul da Itália, reduto da máfia Camorra, uma das mais cruéis do país.
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Fonte - Terra
Crise econômica não atinge a máfia
A crise econômica mundial não atingiu a máfia italiana, que faturou mais que todas as empresas italianas em 2008, segundo um relatório publicado nesta terça-feira pela associação italiana de empresários Confesercenti.
"A máfia é um grande holding, que tem um faturamento de 130 bilhões de euros e um lucro aproximativo de 70 bilhões de euros", diz o documento da Confesercenti, que reúne cerca de 270.000 empresários, comerciantes e artesãos especializados no turismo.
"Ao contrário das demais empresas, a máfia não foi atingida pela crise econômica e financeira internacional", destacou a Confesercenti.
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Fonte - Último Segundo
E que cada um tire suas conclusões...
[Colaboração - Donizzeti]