Por Alister Doyle
NY ALESUND, Noruega (Reuters) - Ilhas até então desconhecidas estão aparecendo no verão devido ao recuo do gelo do Ártico em níveisinéditos, disseram especialistas, questionando se o ritmo do aquecimento global não está superando as projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).
Outro fenômeno registrado neste ano foi a dificuldade enfrentada por focas e ursos polares no arquipélago norueguês de Svalbard, já que o gelo marinho do qual esses animais dependem para a caça derreteu muitoantes do normal.
"Reduções de neve e gelo estão acontecendo num ritmo alarmante", dissea ministra norueguesa do Meio Ambiente, Helen Bjoernoy, em um seminário com 40 cientistas e políticos que começou na noite desegunda-feira em Ny Alesund, a 1.200 quilômetros do Pólo Norte.
"Esta aceleração pode ser mais rápida que o previsto (neste ano pelo painel climático da ONU)", disse ela a jornalistas. Ny Alesund, base para a exploração ártica, se intitula o lugar permanentemente habitado mais ao norte do mundo.
"Pode haver um Ártico sem gelo até meados deste século", disse Christopher Rapley, diretor da Pesquisa Antártica Britânica, acusando o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática de ter subestimado o degelo nas duas regiões polares do globo.
O degelo dos glaciais que vão do interior para a costa de Svalbardrevelou várias ilhas que não estavam nos mapas. "Sei de duas que apareceram no norte de Svalbard neste verão e não foram reivindicadas ainda", disse o ambientalista Rune Bergstrom, consultor do governonorueguês na ilha.
O pesquisador disse ter visto uma das ilhas, do tamanho aproximado de uma quadra de basquete. Outras ilhas apareceram nos últimos anos nas costas da Groenlândia e Canadá.
Apesar de tantos alertas sobre o aquecimento, nevava na segunda-feira em Ny Alesund, em pleno verão, várias semanas antes que o normal na região, que nesta época ainda está sendo banhada pelo sol da meia-noite.
Bjoernoy diz que a nevasca foi extemporânea e não invalida os alertas sobre o aquecimento.
Na sexta-feira, o Centro Nacional de Dados dos EUA sobre Neve e Gelo disse que o trecho congelado no Ártico "caiu abaixo do recorde mínimo absoluto de 2005 e ainda está derretendo". O gelo do Ártico atinge seu nível mínimo em setembro, quando então volta a congelar. A estatística norte-americana se baseia em dados de satélite desde a década de 1970.
Rapley disse que o recuo do gelo é ruim para as populações nativas e para a vida animal, mas que pode ajudar a exploração de gás e petróleoou a abertura de rotas marítimas entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
A Noruega espera que o seminário pressione os governos a aceitarem cortes maiores nas emissões de gases do efeito estufa. Participam do evento representantes da China e dos EUA, os dois maiores poluidores mundiais.
Fonte - O Globo
Nota DDP:
Não consigo perder a impressão de que todos os números relativos ao aquecimento global são tão precisos quanto aqueles indicados para avaliar fósseis em bilhões de anos. Pode ocorrer a história do celacanto ao contrário, ou seja, diziam que estava extinto e de repente apareceu para surpresa e desgosto de alguns. Quando previsões apontam para todos os possíveis males do aquecimento para o final deste século, surge a pergunta se não estaríamos às portas destes efeitos, o que pode repetir a surpresa e desgosto, mas agora de muitos.