Ainda que lhe falte mais de um ano para abandonar a Casa Branca, a situação actual de Bush é a de um presidente em estado terminal. O fustigamento parlamentar da oposição aumenta a cada semana, seus aliados republicanos vão-no abandonando um após o outro, seu assessor estrela Karl Rove desertou, a bolha imobiliária continua a desinchar assinalando um futuro obscuro para a economia norte-americana e provocando sucessivas sacudidas bursáteis globais.
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A primeira interrogação refere-se à possibilidade de um contra-ataque do Império. Poderíamos supor que os falcões encurralados estariam tentados a desencadear algum golpe de sorte procurando reverter a péssima situação actual. Durante todo o ano passado esta hipótese adquiriu certa verosimilhança. A crescente agressividade da Casa Branca para com o Irão, o seu compromisso com a invasão militar israelense do Líbano, seus actos hostis contra a Rússia levavam a pensar numa aventura militar em marcha. Alguns autores faziam-nos recordar histórias de outros tempos como a invasão do Canal de Suez em 1956 por parte da França e da Inglaterra, dois impérios coloniais em declínio cujos dirigentes haviam perdido a percepção da realidade, o que os conduziu ao fracasso. Segundo Michael Klare, as elites imperiais decadentes costumam tomar decisões descabeladas uma vez que super-estimam o seu poderio (declinante), subestimam o poder (ascendente) dos seus inimigos e finalmente perdem as estribeiras diante de reais ou supostos desafios destes últimos Ingleses e francesas acreditavam naquela época que podiam vergar Nasser facilmente, do qual não aceitavam as reivindicações nacionalistas, mas o mundo havia mudado e os estados colonialistas sofreram uma humilhante derrota política.
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As grandes potências estão condenadas a lutar entre si e ao mesmo tempo realizar acordos destinados à sobrevivência comum. Duas conclusões surgem de imediato: primeiro, o declínio económico e político dos Estados Unidos afecta negativamente as demais potências e, em consequência, essa facto inevitável acabará por debilitá-los a todos. Segundo, o desenvolvimento do processo geral de degradação fará cada vez mais necessários e difíceis os acordos financeiros, comerciais e políticos entre os países centrais. É evidente que o futuro não copiará o século XX, quando o declínio do Império inglês abriu caminho para a ascensão dos Estados Unidos e da Rússia. Proporá, sim, diferentes cenários de despolarização ou multipolaridade frouxa (mais ou menos caóticos ou efémeros).
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A crise financeira puxa em direcção à recessão e a penúria energética exerce pressões inflacionárias. Nos anos 1970 verificou-se uma pequena antecipação do fenómeno, que foi chamado "estagflação". O termo é demasiado suave para o que vem aí.
Fonte - Resistir