quinta-feira, 30 de agosto de 2007

As novas faces do Big Brother

Por Muniz Sodré em 28/8/2007

1. Numa passagem do filme O Ultimato Bourne, blockbuster em cartaz, um jornalista pergunta no celular à sua fonte de informações se já tinha ouvido alguma menção a determinada palavra. Ao ser pronunciada, a palavra, que era o codinome de uma operação secreta da CIA, aparece na rede de controle da agência de espionagem. Ato contínuo se identifica o número do telefone, assim como o nome do proprietário, cuja vida é posta em risco desde então. Trata-se de ficção, certo, mas a façanha é tecnicamente possível. Como bem se sabe, o Echelon, o superprograma norte-americano de controle mundial dos conteúdos das telecomunicações, funciona nessa linha de proezas, em que se abolem os limites entre ficção e experiência concreta.

2. Desde junho último, quando a Apple passou a vender o seu iPhone (híbrido de celular com Ipod), hackers de todo o mundo iniciaram uma competição para ver quem quebrava primeiro o seu código de proteção. A façanha acaba de ser finalmente levada a cabo por um grupo de adolescentes norte-americanos.

3. Um jornalista de O Globo fotografa a troca de e-mails entre ministros do Supremo Tribunal Federal durante o julgamento da denúncia do Ministério Público contra os envolvidos no chamado "mensalão". Dividem-se as opiniões: algumas são de elogio ao feito jornalístico, outras condenam a "invasão de privacidade".
...

As situações apontadas valem como sintomas de uma questão a ser elaborada por autoridades, analistas e imprensa. Sob o signo desse olhar virtualmente ilimitado – uma verdadeira atualização da idéia do Big Brother orwelliano –, são mínimas as margens de gozo da privacidade. É forçoso produzir uma cultura compatível com essa restrição. E isto implica discutir a advertência do presidente do Conselho Federal da OAB: "Sem privacidade, não há liberdade."

Related Posts with Thumbnails