terça-feira, 1 de julho de 2008

A histeria do aquecimentismo global

A verdade pode chegar ao mundo por muitas vias, mas ela nunca vem acompanhada pela força. Pensava que fosse uma lição aprendida há muito, a principiar pelos próprios cientistas. Os cientistas reais aprenderam-na de facto. Contudo, emergiu uma nova amálgama, a do cientista-activista, e neste espécime a lição é ignorada.

Na alvorada do Iluminismo, cientistas foram levados a tribunais e inquisições. Galileu é o grande exemplo, o pioneiro empírico que rejeitou o antigo modelo do universo (então conhecido) tendo a Terra como centro, e pelos seus esforços despertou a atenção e a ira inquisitorial.

Fui atraído a estes pensamentos, e ao exemplo da Inquisição, por uma curiosa explosão esta semana de James Hansen, o principal porta-voz da NASA sobre o assunto do aquecimento global, um homem que desempenhou o papel de S. João Batista nos ensinamentos messiânicos de Al Gore sobre o assunto. O dr. Hansen é geralmente considerado o homem que "tocou o alarme" quanto ao aquecimento global provocado pelo homem, e ele tem sido um proponente persistente, altamente publicitado e muito agressivo desta causa desde há duas décadas. O dr. Hansen não trata gentilmente aqueles que contestam os seus cenários apocalípticos. Escolhi esta palavra, apocalíptico, deliberadamente. Segundo o dr. Hansen, a espécie humana pode ter atingido o ponto de viragem com o aquecimento global. Se este for o caso, calamidades e catástrofes em vasta escala são inevitáveis. E se tivéssemos atingido o ponto de crise absoluta, haveria um minúsculo intervalo [de tempo] para as espécies humanas actuarem e prevenirem o pior. Segundo o dr. Hansen, o que ainda resta por ser enfrentado na verdade ainda é horrível.

Nem todo o mundo partilha a visão do dr. Hansen de um iminente Armagedão ecológico. Mentes sérias, sem interesses no assunto, lançam advertências a todo momento. Elas questionam os modelos de especulação climatológica; questionam a peculiar mistura de fontes antropogénicas e outras prováveis fontes na dinâmica do clima; questionam alguns dos dados reunidos e algumas das suas interpretações; e questionam a própria maturidade da altamente complexa, e experimentalmente deficiente, ciência do aquecimento global em si mesmo.

Elas questionam também a receitas maciças de politica que estão a ser exigidas como resposta necessária às determinações científicas do aquecimento global produzido pelo homem. Há muitíssimo espaço para opiniões diferentes e honestas sobre questões tão amplas e complexas, questões na terrivelmente complicada intersecção da ciência, política e economia.

Mas, para a mente agitada do dr. Hansen, aquele que levanta tais questões, os que injectam cepticismo no debate do aquecimento global são "negacionistas". A palavra aqui está a tornar-se lugar comum, mas ela permanece como uma calúnia estranha. Um punhado de crentes no aquecimento global gosta de arremessar todos os que argumentam com eles para a categoria do polémico, sendo polémicos todos os que discordam da opinião ortodoxa sobre o aquecimento global como o equivalente à negação do Holocausto. Trata-se de uma táctica sem vergonha e viciosa, e dificilmente de acordo com a nobreza que se supõe guiar a consciência daqueles que salvam o planeta. O dr. Hansen é excessivamente afeiçoado a analogias especiosas e assustadoras: Eles escreveu sobre "glaciares a desaparecer que funcionam como uma Kristal Nacht " e, embora posteriormente se haja arrependido da metáfora, comparou comboios de carvão a "comboios da morte – tão pavorosos quanto vagões a caminho do crematório, carregados com incontáveis espécies insubstituíveis". Esta semana, o dr. Hansen deu um passo em frente ainda mais nocivo.

Ele clamou por um tribunal, ou como prefiro denominá-lo, por uma Inquisição, a fim de julgar por crimes contra a natureza e a humanidade os presidentes das grandes companhias de petróleo os quais, de acordo com frenética visão das coisas do dr. Hansen, alimentam a "desinformação" pública acerca da crise climática. Mais uma vez, o modelo implícito é Nuremberg, quando as tentativas do homem de se preocupar com um futuro – vamos chamá-lo de probabilidade – no terreno moral e factual emparelham com a inquestionável, histórica e comovedora enormidade do Holocausto Nazi.

Será este o discurso de um cientista? Se for, é mais do que estranho que no século XXI esteja este cientista a clamar pelo equivalente secular de uma Inquisição. Ainda mais directamente ao ponto: são estas as palavras de um homem realmente certo da sua verdade ou de alguém que – com a ansiedade do fanático – está a tentar proteger-se do rigor do cepticismo e da investigação? Seja um caso ou seja o outro, não questiono de todo a afirmação de que isto é a voz de um homem que não é amigo da razão nem da ciência. Isto é a voz do cientista-activista consumado, com a sua própria verdade e temeroso de toda disputa.

A ciência não precisa de tribunais ou julgamentos, não precisa da justiça de Nuremberg, ou analogias com o Holocausto. As palavras de James Hansen esta semana constituíram uma ofensa contra a investigação, contra a ciência e contra a seriedade moral. Foram uma manifestação insolente contra o próprio debate de ideias.

Fonte - Resistir
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