LONDRES (Reuters) - Ao abandonar o rifle kalashnikov e tingir a barba grisalha de preto, Osama bin Laden apresenta ao mundo sua nova imagem, num vídeo que não faz ameaças específicas, mas pode ser um prenúncio de um novo ataque da Al Qaeda.
Em um pronunciamento de meia hora divulgado a poucos dias do sexto aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra os EUA, Bin Laden vagou entre a aula de história e o sermão, conclamando os norte-americanos a trocarem a democracia capitalista pelo Islã caso desejem o fim da guerra no Iraque.
Analistas dizem que o aguardado vídeo --o primeiro-ministro de Bin Laden em três anos-- desmente rumores sobre a morte dele, mas é mais significativo pelo estilo que pelo conteúdo.
"Ele apareceu sem a jaqueta com camuflagem militar que costumava usar e sem seu kalashnikov favorito, que ele capturou de um general soviético durante a Guerra do Afeganistão", disse Abdel Bari Atwan, editor-chefe do diário em língua árabe Al Quds, de Londres.
Na opinião dele, ao tingir barba e cabelo e ao vestir trajes árabes Bin Laden tenta se mostra como uma nova figura, mais madura --o líder espiritual da Al Qaeda.
Para outros, porém, o novo "look" de Bin Laden foi bizarro. "Faz com que ele, um homem que diz querer ser um mártir, pareça fútil e ridículo", disse M.J. Gohel, da Fundação Ásia-Pacífico, também de Londres.
Apesar do conteúdo apenas "morno", analistas não descartam que o vídeo seja o grito de guerra para um novo atentado. As últimas imagens de Bin Laden haviam sido divulgadas na véspera da eleição presidencial de 2004 nos EUA.
"Já que vídeos mostrando Bin Laden falando com a câmera são tão raros, a divulgação desta fita em particular pode prenunciar um grande ataque, embora notavelmente esta mensagem não contenha nenhuma das suas habituais ameaças abertas contra os Estados Unidos", disse Gohel.
Atwan, que já entrevistou Bin Laden, disse à Reuters: "Talvez se trate de um alerta de que um ataque pode acontecer em breve, esse é um tipo de vídeo de conclamação. Talvez haja uma mensagem a seus seguidores: 'Sigam adiante e façam o que quiserem'."
Bin Laden não explicou seu longo silêncio, o que levara a especulações de que ele estaria muito doente ou escondido demais para conseguir gravar e difundir uma mensagem.
Amr El Choubaki, especialista em movimentos islâmicos radicado no Cairo, disse que o apelo para que os EUA se convertam ao Islã é um sinal de que ele não está em posição de citar objetivos mais concretos. "Está claro que sua influência dentro da organização Al Qaeda agora é limitada", afirmou.
Já Mohamed El Sayed Said, vice-diretor do Centro Ahram para Estudos Políticos e Estratégicos, também do Cairo, disse que o vídeo, apesar da falta de avisos específicos, é "muito mais ameaçador desta vez".
"(Ele) está confiante, usa uma linguagem iconográfica que sugere: 'Estou encarregado de travar uma guerra infinita contra vocês, e a única forma de obterem a paz é se converterem ao Islã"', analisou Said. "Ele está num estado de batalha, num estado de guerra constante, sem fim, até que islamize o mundo."
(Reportagem adicional de Inal Ersan, em Dubai, e Aziz El-Kaissouni, no Cairo)
Fonte - Yahoo