NOVA YORK- São muitas especulações e frenesi, mas poucas informações concretas. Não estamos falando do caso da meninina inglesa Madeleine McCcann, desaparecida em Portugal, e pivô de obsessão global. É um assunto bem mais árido, mas muito explosivo, envolvendo o triângulo nada amoroso de Israel, Síria e Irã.
Uma das poucas informações concretas no mistério é que no último dia 6 aviões israelenses realizaram um ataque contra a Síria. A partir daí, foi um bombardeio de suposições. Uma delas, disparada pela rede CNN: o alvo seria uma carregamento de armas iranianas para o grupo xiita libanês Hezbollah. O jornal inglês The Observer, sempre metido a espião, teorizou que a incursão na Síria fora um ensaio para um ataque israelense contra instalações nucleares do Irã.
Na terça-feira, o "New York Times", com a devida cautela, investiu em uma teoria que circula há dias: o alvo foram instalações de um rudimentar programa nuclear sírio, equipadas com ajuda da Coréia do Norte. O "Washington Post" saíra da frente do concorrente, especulando que um navio norte-coreano entregara algum tipo de carga nuclear no porto sírio de Tartus, forçando Israel a atacar. A teoria ficou mais intrigante pois uma rodada de negociações nucleares multilaterais envolvendo a Coréia do Norte foi abruptamente cancelada.
Tudo é vago e misterioso, mas os caminhos no final das contas não levam a Damasco, mas a Teerã. A legião neoconservadora em Washington insiste na existência de um complô de cooperação da Coréia do Norte com a Sïria e Irã em programas de mísseis balísticos e materiais nucleares. Esta legião errou feio no caso do arsenal de destruição em massa do Iraque de Saddam Hussein.
Nos últimos dias, ressurgiram nos jornais americanos histórias sobre disputas nos bastidores entre setores pragmáticos do governo Bush e a linha dura comandada pelo vice-presidente Dick Cheney sobre como lidar com o Irã (no jargão, as opções militares sempre estão na mesa). E a França de Nicolas Sarkozy se afina com os EUA falando grosso com Teerã devido às suas ambições nucleares e indisposição para cooperar com a comunidade internacional para dar cabo delas.
Israel tem o seu arsenal nuclear e lembra com insistência que jamais permitirá que Irã e Siría façam o mesmo. Existe um entendimento tácito que se os europeus e os americanos não derem conta do recado, em termos diplomáticos, para o fim do programa nuclear iraniano, Israel irá à carga, como fez no Iraque em 1981. Israel acredita que os iranianos atingirão um ponto de não retorno no seu programa de enriquecimento de urânio no ano que vem. A inteligência americana alonga este prazo, de dois a oito anos.
Existem especulações de que, no seu senso de urgência, o primeiro-ministro israelense Ehud Olmert buscou garantias de George W. Bush de que, caso sanções fracassem no sentido de forçar o Irã abandonar suas ambições, os americanos atacariam as instalações nucleares antes do final do mandato do presidente em janeiro de 2009. Estas garantias não foram dadas, mas, avançando nas especulações, se Israel atacar ainda preferiria fazê-lo sob este governo americano, sem esperar para ver como reagiria o próximo ocupante da Casa Branca. É uma boa especulação?
Fonte - Último Segundo