por João Luiz Mauad em 19 de outubro de 2007
Resumo: O mais grotesco no Prêmio Nobel entregue a Al Gore não é tê-lo concedido a um animador de auditórios, defensor uma "verdade" muito conveniente (para alguns) e nada científica, mas preterir pessoas cujas causas são muito mais importantes e urgentes.
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Alguns meses depois de abocanhar um Oscar, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore foi agraciado, semana passada, com o Prêmio Nobel da Paz. De acordo com os responsáveis pela escolha, "por seus esforços no combate às mudanças climáticas".
Muito interessante, e sintomático, foi o fato de que, na mesma semana, o venerando máximo da religião do aquecimento global esteve nas manchetes inglesas por uma outra razão. É que a alta corte daquele país decidiu que o famigerado documentário "Uma Verdade Inconveniente" somente poderia ser exibido nas escolas britânicas com a devida explicação, prévia, de que o mesmo contém nada menos que – comprovados – "nove erros científicos". Também segundo a referida sentença, os professores ingleses deveriam chamar a atenção dos estudantes para certos "exageros" e para o caráter "alarmista" da película.
Mas o que são meros nove erros, não é mesmo? Nada que tire a importância e a beleza de um filme que nos apresenta a uma "verdade maior", qual seja: somos responsáveis pelas mudanças climáticas que destruirão o mundo, se nada for feito imediatamente. O que, afinal, representam alguns "pequenos" equívocos científicos, desde que eles estejam a serviço de uma verdade maior? Simples acidentes de percurso, sem maiores conseqüências. A exemplo de vários outros veículos de imprensa, engolidos pela onda catastrofista, o Jornal do Brasil estampou a seguinte "pérola", em editorial publicado no dia 16/10: "Embora com alguma imprecisão de dados, o documentário protagonizado pelo político arrancou aplausos da crítica e fez o grande público refletir sobre a questão ambiental. Talvez aí esteja o maior mérito de Al Gore."
Os erros – tanto factuais quanto conceituais – expostos naquela película propagandista manchariam a biografia de qualquer cientista. No entanto, Gore não é um cientista, mas um político cuja intenção não é outra senão politizar a ciência. Em seu mundo, a climatologia não gira em torno da investigação, dos métodos, dos experimentos ou testes de hipóteses. Na práxis goreana, evidências empíricas ou lógicas dão lugar a (in)convenientes verdades e a estranhos consensos.
É difícil ignorar um forte apelo moral nos discursos de Al Gore. A exemplo de um certo líder tupiniquim, ele jamais perde uma oportunidade que seja para vender ao público sua autoproclamada vocação de grande guia dos povos. Sua cruzada, segundo ele mesmo, está voltada a prevenir uma catástrofe global que, por sua vez, é sustentada por verdades irrefutáveis, as quais lhe foram "reveladas" não por entidades supranaturais, mas por um pretenso consenso científico. Seus ataques incessantes contra os chamados "céticos" se devem justamente à necessidade de afirmar este famigerado consenso. Assim, a investigação científica, cujo pressuposto básico é – ou pelo menos deveria ser – a própria dúvida, e nunca a certeza, acaba transformando-se num dogma espiritual. Na religião deste verdadeiro profeta do medo só há espaço para o bem e para o mal, para o comportamento "virtuoso" dos engajados ou "vicioso" dos céticos.
Num mundo onde a razão foi seqüestrada pela paranóia e o apocalipse nos é vendido como iminente, nada mais natural que a busca desesperada por heróis, salvadores da humanidade, líderes espirituais que nos guiarão e protegerão das intempéries provocadas pela nossa própria ganância. Mas isso só não basta. A humanidade está em guerra e, como é natural em tempos de guerra, todo poder e dinheiro deverá ser entregue aos Leviatãs, sem esquecer que, neste caso, como o inimigo é comum a todos, a grande divindade mística, a suprema burocracia supranacional será chamada a descer do Olimpo, às margens do Rio Hudson, para liderar as forças nacionais rumo à vitória final.
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Fonte - Mídia sem Máscara
Nota DDP:
A identidade de discursos entre líderes políticos e religiosos em torno do tema aquecimento global, certamente não é uma mera coincidência, resta saber quanto tempo demorará para que os mesmos - discursos - passem a ocupar um "palanque" comum.