A reforma do sistema monetário e financeiro, com uma moeda internacional emitida por um banco central mundial, é a receita que oferece o órgão das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) com objetivo de evitar que se repita uma crise como a atual.
O secretário-geral da organização, Supachai Panitchpakdi, afirmou que "o predomínio do dólar como principal meio de pagamento internacional teve um papel importante na formação de desequilíbrios mundiais que desembocaram na crise financeira".
Por isso, a Unctad defende um sistema de taxas de câmbio aceito internacionalmente e baseado no princípio de porcentagens reais, constantes e sustentáveis para todos os países. Com isso se conseguiria colocar um freio à especulação, porque o principal fator desencadeante da especulação cambial é o diferencial de inflação e de taxas de juros.
Assim se evitariam as crises monetárias, porque desapareceria o principal incentivo para especular com moedas de países altamente inflacionários, e se poderiam prevenir desequilíbrios mundiais fundamentais e de longa duração, evitando que os países em desenvolvimento sejam apanhados pela dívida.
Também se poderia evitar a condicionalidade procíclica em caso de crise e se reduziria a necessidade de manter reservas internacionais. "A crise atual se deve ao predomínio das finanças sobre os setores produtivos da economia que geram a autêntica riqueza, o que foi possível graças à euforia suscitada pela eficiência do livre mercado", assinala a Unctad em seu relatório de 2009.
Como destacou Panitchpakdi, "nos Estados Unidos, a parte do Produto Interno Bruto (PIB) que corresponde ao setor financeiro aumentou de 5% para 8% entre 1983 e 2007, enquanto sua parte no total de lucros empresariais passou de 7,5% para 40%".
- As autoridades econômicas deveriam ter receado de um setor que aspira o tempo todo a lucros de dois dígitos em uma economia que cresce a um ritmo muito menor - acrescentou.
O relatório da organização diz que um sistema baseado em uma moeda nacional sempre dependerá das decisões de política monetária que adotam os bancos centrais que emitem essas moedas e que se adotam em função das necessidades e preferências da política nacional, e não em resposta às necessidades do sistema de pagamentos internacionais e da economia mundial.
E critica também que este sistema, em momentos de desequilíbrio da conta corrente, impõe toda a carga do ajuste aos países deficitários. "O Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçou esse viés deflacionário ao impor políticas restritivas aos países deficitários como parte de suas condições para conceder empréstimos, em vez de exigir políticas mais expansivas aos países com excedentes", afirma o estudo.
Fonte - JBOnline