quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Desenvolvimento enfrenta ameaça catastrófica

Nações Unidas, 02/09/2009 - Quando os políticos e governantes reagiram com lentidão dolorosa à crise econômica dos anos 20, o economista britânico John Maynard Keynes fez sua famosa afirmação: "Em última análise, todos nós morremos." Hoje a frase assume um sentido muito mais grave, diz a Organização das Nações Unidas, considerando os perigos combinados das crises econômica e ambiental que o mundo enfrenta. No seu "Estudo Econômico e Social Mundial 2009 - Promover o desenvolvimento, salvar o planeta", divulgado ontem, a ONU sustenta que a comunidade internacional está respondendo com a urgência necessária à devastação iminente causada pela mudança climática, descrito como o maior desafio humano das próximas décadas.

"Em um nível muito profundo, é um perigo existencial", diz o documento cuja versão em inglês tem 207 páginas, anotando estimativas segundo as quais mais de 300.000 pessoas morrem anualmente em conseqüência do aquecimento global, enquanto as vidas de 300 milhões estão em grave risco. O novo relatório coincide com dois eventos, a cúpula das Nações Unidas sobre mudança climática, dia 22 deste mês em Nova York, e as negociações para um novo tratado internacional para lidar com o fenômeno, que culminarão em dezembro em Copenhague.

Ao colocar a responsabilidade especialmente nas mãos das nações industriais, o relatório afirma que a crise do clima é o resultado de um modelo de desenvolvimento desequilibrado econômico que evoluiu nos últimos dois séculos. ”Permitiu-se aos países ricos de hoje manter seus níveis de renda atual em parte por não responderem pelo dano ambiental que agora ameaça o sustento de outros", diz o relatório. As ações necessárias para mitigar as alterações climáticas incluem a redução das emissões de gases de efeito estufa, frear o desmatamento e a degradação do solo, o combater a elevação do nível do mar, prevenir secas e inundações e modificar as cidades e os prédios para torná-los menos exigentes de energia.

Para enfrentar estes desafios, de acordo com o documento, são necessários entre 0,2% e 2% do produto interno bruto mundial, entre US$ 180.000 bilhões e US$ 1,2 trilhão. Mas, na maioria das projeções, os maiores gastos não serão necessários até 2030. Rob Vos, diretor da divisão de análise e desenvolvimento de políticas do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, que divulgou o relatório, disse que "devemos começar por reconhecer o que é necessário. Perguntado sobre como alimentar o investimento no cenário de crise financeira internacional, Vos disse à IPS que "a crise deixou claro que é possível mobilizar grandes quantidades de recursos para combater os riscos sistêmicos e que só os governos estão em condições de fazer isso".

A mudança climática, prosseguiu, "é um risco sistêmico muito mais catastrófico, mas com muito menos recursos do que aqueles utilizados para combater a crise financeira podemos enfrenta-la”. A ciência explica que, mesmo com uma redução de entre 50% e 80% dos gases de efeito estufa até 2050 "Há uma boa chance de que não podermos alcançar um aumento inferior a dois graus na temperatura global, que já é considerada perigosamente alta", disse. Ao mesmo tempo, "espera-se uma crescente demanda por energia, se os países pobres ganharem seu direito ao desenvolvimento", acrescentou. Para responder aos desafios é preciso um aumento da eficiência energética e de fontes de energia limpa, renovável e de baixo teor de carbono, ressaltou.

"O que é preciso é convencer os governos de que enquanto são necessários grandes investimentos, o custo de não fazê-los será muito maior", afirmou Vos. Os países ricos têm a obrigação moral de ajudar os pobres para evitar o mesmo modelo de desenvolvimento de "contaminar primeiro e limpar depois", acrescentou. "Mas esta é apenas uma questão de justiça e de sobrevivência. Existe uma solução que pode conduzir a ganhos: investimentos em larga escala no fornecimento de energias renováveis propiciarão aos países industrializados uma grande quantidade de novos postos de trabalho e de segurança energética", disse Vos.

Os países pobres, acrescentou, podem avançar mais rapidamente na estratégia de um grande desenvolvimento com baixa liberação de carbono, o que beneficiará os países ricos também, conjurando o pior da mudança climática. Perguntado sobre como vê a criação de um fundo global para energias limpas, Vos disse à IPS que vários países estão formulando propostas para concebê-lo. México e outros países têm indicado que seria necessário um montante entre 300.000 bilhões de euros e 600.000 bilhões de euros, o equivalente a entre 0,5% e um por cento da produção mundial.

"Um grande fundo global poderia iniciar o processo. Precisamos de mudanças substanciais nas nossas economias, especialmente no abastecimento de energia, o que implica planos de investimentos de longo prazo que possam sustentar-se por décadas", disse Vos. Além disso, porque a renovável ainda é uma energia cara, "devemos criar economias de escala para reduzir custos e acelerar a adoção dessas fontes", afirmou.

Fonte - Envolverde

Nota DDP: Sobre o destaque dado à manifestação do agente ONU, importa o paralelo com manifestação encontrada na agência Zenit:

"Os países ricos têm a obrigação moral de ajudar os pobres" (Vos - ONU)

"os países ricos têm um dever moral inequívoco... de ajudar os países em vias de desenvolvimento" (cardeal britânico Keith O’Brien)

Coincidência?


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