segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A liturgia do fanatismo em Indiana

Exposição de motivos: Consideramos aqui por mais de uma vez os eventos ocorridos no seio do adventismo no início do século passado e que constam em várias de suas nuances de duas cartas escritas por Ellen G. White transpostas no livro Mensagens Escolhidas, Volume 2, p. 31 a 39. Estes relatos se apresentam claramente em dois momentos: Inicialmente se observa na as ponderações da Sra. White acerca dos contornos da chamada doutrina da "Carne Santa" e, em um segundo momento, ela acaba por explorar os aspectos externos particulares da liturgia envolvida naqueles eventos.

A leitura histórica e atual realizada pelo adventismo neste contexto aponta para a duplicação de certas características do quanto lá ocorrido, especialmente no que concerne a música, como já declinado neste espaço e que pode ser compulsado em "Interpretando e aplicando conceitos de Ellen G. White - A questão de Indiana".

No entanto, temos observado o aparecimento de uma interpretação paralela de tais relatos, que "cola" as duas cartas, sustentando que os textos em questão tratam unicamente de combater a doutrina da chamada "Carne Santa" e, assim, retira o paralelo profético da liturgia lá havida, bem como os elementos considerados, notadamente a música.

Com base nesta premissa, transcrevo as considerações do Prof. Vanderlei Dorneles constante do blog do irmão Gilberto Theiss. A intenção não é outra senão suscitar aos interessados a construção de paradigmas que levem à compreensão, ainda que particular na vertente adotada, plenamente calcada nas possibilidades aplicáveis ao caso, como segue:

1) “Havia exaltação, com ruído e confusão. Não se podia distinguir uma coisa da outra. Alguns pareciam estar em visão, e caíam por terra. Outros pulavam, dançavam e gritavam. Declaravam que, como sua carne estivesse purificada achavam-se prontos para a trasladação. Isto repetiam e repetiam. Dei meu testemunho em nome do Senhor, manifestando Sua reprovação a essas manifestações” (ME, II, 34).

2) “A maneira por que têm sido dirigidas as reuniões em Indiana, com barulho e confusão, não as recomendam a espíritos refletidos e inteligentes. O Senhor deseja manter em Seu serviço ordem e disciplina, não agitação e confusão” (ME, II, 35).

3) “As coisas que descrevestes como ocorrendo em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo” (ME, II, 36).

4) “O Espírito Santo nunca Se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isso [o ruído] é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É melhor nunca ter o culto do Senhor misturado com música do que usar instrumentos músicos para fazer a obra que, foi-me apresentado em janeiro último, seria introduzida em nossas reuniões campais. A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção. As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do Espírito Santo” (ME, II, 36).

5) “Nenhuma animação deve ser dada a tal espécie de culto”. Veja que ela não fala da doutrina da carne santa, mas do culto (ME, II, 37).

6) “O Espírito Santo nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons como me foram apresentadas em janeiro último. Satanás opera entre a algazarra e a confusão de tal música, a qual, devidamente dirigida, seria um louvor e glória para Deus. Ele torna seu efeito qual venenoso aguilhão da serpente (ME, II, 37).

7) “Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida” (ME, II, 38).

8) “Alguns [fanáticos depois de 1844] dançavam para cima e para baixo, cantando: "Glória, glória, glória, glória, glória, glória." Por vezes eu ficava sentada quieta até que eles terminassem, e então me erguia e dizia: "Esta não é a maneira por que o Senhor opera. Ele não causa impressões assim. Precisamos dirigir a mente do povo à Palavra como o fundamento de nossa fé” (ME, II, 42).

9) “Temo qualquer coisa que tenha a tendência de desviar a mente das sólidas provas da verdade tal como se revela na Palavra de Deus. Temo isto; temo isto. Precisamos pôr nossa mente dentro dos limites da razão, não seja que o inimigo penetre de maneira a pôr tudo em desordem” (ME, II, 43).

10) “Cumpre-nos fortalecer nossa posição demorando a mente na Palavra, e evitando todas as esquisitices e cultos religiosos estranhos que alguns seriam muito prontos em pegar e praticar. Caso permitíssemos que a confusão penetrasse em nossas fileiras, não poderíamos libertar disso nossa obra” (ME, II, 44).

11) Sobre um casal de reavivalistas fanáticos, ela diz: “No falar, cantar e em exibições estranhas, que não estão em harmonia com a obra genuína do Espírito Santo, sua mulher está ajudando a introduzir um aspecto de fanatismo que causaria grande dano à causa de Deus, caso lhe fosse permitido qualquer lugar em nossas igrejas” (ME, II, 45).

12) “Meu irmão e minha irmã, tenho uma mensagem para vós: Estais baseados numa falsa suposição. Há muito do próprio eu entretecido em vossas exibições. Satanás entrará com fascinante poder através dessas exibições. É mais que tempo de vos deterdes” (ME, II, 45).

Veja como ela se concentra no problema da liturgia consistentemente. E expressa mais preocupação com esse assunto do que com o problema teológico da “carne santa”, para o qual ela se limita a umas poucas referências. A liturgia é o carro-chefe para o fanatismo. Isso está claro na maneira de ela expressar suas preocupações. [Grifo nosso]

ET: A partir da nota "8", os textos citados se referem a outro evento ligado a fanatismo analisado pela Sra. White.


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