Transcrevemos acima o nome de um artigo confeccionado a cargo de considerar-se mais uma vez a infindável celeuma da música no âmbito do adventismo, podendo ser compulsado de forma completa, aqui. Nas palavras do articulista, seu objetivo se situa em "esclarecer a posição de Ellen White sobre o uso da bateria e de instrumentos de modo geral na música sacra adventista."
Esclarecer, neste contexto, parece-nos implícita e ousadamente pretender "colocar um ponto final" em uma discussão de décadas.
O arrazoado é longo, passa por inúmeras questões já exaustivamente tratadas em tantos estudos disponíveis, o que pode ser visualizado de forma mais clara através do extenso arquivo constante do site "Musica & Adoração". Esta argumentação ora empreendida neste espaço, muito longe de querer "esclarecer" qualquer coisa, cinge-se a considerar algumas questões subjacentes aos propósitos esquadrinhados no citado artigo, afim de que o leitor talvez menos atento a princípio, leve em questão outros fatores antes de desavisadamente dar guarida irrestrita ao texto em foco.
1) - Do Título:
Como transcrito ao início deste post, o artigo pretende responder à seguinte pergunta: "Ellen White era contra a bateria na música sacra?".
A simples consideração do título, não deixa dúvida que a intenção do artigo é estabelecer uma de duas possíveis respostas imediatas ao questionamento sugerido: sim ou não.
Com o devido respeito ao articulista, a quem desde já concedemos o benefício da dúvida, o seu raciocínio parte de um sofisma. Explico: Ellen White, ao menos no que transparece de seus escritos, nunca se demonstrou contra a "bateria" e, isso se dá pelo simples motivo de que ainda não existiam baterias nos moldes que hoje conhecemos nos tempos dela.
Temos portanto, em realidade e em última instância, que o artigo através de seu título leva o leitor menos atento a considerar que se o arrazoado demonstrar que Ellen White não se manifestou contra a bateria, automaticamente não há que se discutir sobre a presença de tal instrumento no âmbito da adoração.
Ora, o processo indutivo é claramente de cunho falacioso.
Não existe nos escritos do Espírito de Profecia qualquer referência expressa ao termo "bateria", senão na profecia derivada da compreensão do movimento da carne santa, que inclusive será abordado especificamente mais adiante, por entendermos ser este o "coração" do artigo em voga e, que merece maior vagar em sua análise.
Assim, pretender se demonstrar a inexistência de algo que realmente inexiste, para fins de sustentação de outra argumentação, seja ela a que título for, se demonstra como uma indução no mínimo de caráter equivocado, considerados os princípios da lógica.
2) - Do Articulista:
Ainda no bojo do mesmo arrazoado, o articulista alinha seus títulos acadêmicos: Teólogo, Mestre em Divindade, Mestre em Música e cursando PhD em Teologia com ênfase em Liturgia e Adoração. Temos certeza que cada um dos citados títulos lhe são merecidos, no entanto, para efeito de se analisar mais uma vez os termos do arrazoado e, especialmente considerando a premissa inicial estabelecida de "esclarecer" o assunto, como preambularmente fixado, não se pode afastar, ressalvado novamente o benefício da dúvida, a pretensão de se construir outra falácia, qual seja, a da autoridade.
Inúmeros teólogos e músicos da Igreja Adventista vêm gravitando neste tema já por muitos anos sem uma conclusão uníssona no seu entendimento e, neste processo temos bons argumentos a serem considerados em ambos os lados. No entanto, como se depreende dos demais arrazoados do Autor, constantes de seu blog na internet, especialmente na análise ao nosso ver no mínimo deselegante dos argumentos do livro "O cristão e a música rock" organizado pelo falecido Pr. Samuelle Bacchiocci (catalogado pelo articulista, ainda que de forma indireta, como "superficial, tacanho, tendencioso e a desserviço de Deus"), observamos que o "argumento" de autoridade lhe parece relevante no deslinde das questões, especialmente desta em foco.
Neste diapasão, temos a seguinte afirmativa:
"Bacchiocci por não ter nenhuma experiência como músico (...)."
Em outras palavras, na visão do articulista, Bacchiocci carece de autoridade para tratar do assunto em voga. Autoridade esta que subentende-se os títulos conferem apenas ao articulista e aos seus pares, sendo este o raciocínio primeiro abstraído do esforço em se identificar como alguém altamente qualificado na área.
Parece-nos apenas que há um certo esquecimento ao dever de considerar-se que o Reino pertence aos símplices. E ao proceder-se tal afirmativa, nenhum incentivo há no sentido de não se apoiar a busca conhecimento, no entanto, invocar este último de forma a conferir superioridade argumentativa fora dos próprios argumentos em si considerados, não nos parece mais uma vez de boa técnica no campo estritamente lógico.
Ainda neste tema, o que o articulista não informa em primeiro lugar, é que se o Pr. Bacchiocci que "(...) bebeu nas mesmas fontes que causaram divisão em mal entendidos na Igreja (...)", o fez em músicos da envergadura de Eurydice V. Osterman e Wolfgang H. M. Stefani, por exemplo, que têm livros distribuídos pela própria Igreja ainda hoje, motivo pelo qual obviamente esta não os entende como "superficiais, tacanhos, tendenciosos e a desserviço de Deus".
Em segundo lugar, o que o articulista deixa de consignar, não sabemos por qual motivo uma vez que fez questão de trazer ao bojo de seu arrazoado inclusive informações com assentos de cunho pessoal/familiar, que o mesmo é empresário (?) e músico profissional, sendo este último qualificativo, informação que inicialmente constava de seu blog, mas que foi suprimido.
Ao trazer as informações constantes do último parágrafo, o fazemos apenas e tão somente no sentido de demonstrar que suas considerações não são necessariamente de fonte isenta, não se podendo descartar, portanto, seus próprios gostos pessoais. É o que se abstrai inclusive da seguinte afirmação, constante ainda do texto por ele confeccionado sobre o Pr. Bacchiocci:
"Somente após ter experimentado a adoração real que acontece nos meios musicais contemporâneos é que fui levado a rejeitar como falso o conceito de que Deus não pode se expressar através da música cristã contemporânea. E vou além, para muitas pessoas, esse é o único meio que Deus para alcançá-los (...)".
Seus conceitos partem portanto de uma "experiência" pessoal, sendo por esta "levado" ao reconhecimento do que catalogou como "um falso conceito". No mínimo uma contradição, uma vez subentendido que a experiência em seu caso veio antes do conhecimento que reclama para terceiros. Sobre o chamado "falso conceito", temos a sublinhar que nada há de mais falso no argumentar supra transcrito do que a afirmação que nos permitimos repetir:
"(...) para muitas pessoas, esse é o único meio que Deus [tem?] para alcançá-los (...)"
É o poder de Deus limitado pela ação música. Sem mais comentários.
3) - Da Profecia:
Reputo aqui se estabelecer o "coração" do artigo, ao menos do ponto de vista dos interesses imediatos deste espaço, mais uma vez por simples questão de lógica.
Transcrevo do artigo que dá ensejo a este arrazoado:
"Sobre o cumprimento dessa profecia “imediatamente antes da terminação da graça”, dois pontos devem ser explorados.
Primeiro, Ellen White entendia que o tempo imediatamente precedente ao fechamento da porta da graça, quando esses elementos se apresentariam, era em seus dias:
Muitos movimentos dessa espécie surgirão em nossos dias, quando a obra do Senhor deve manter-se elevada, pura, sem superstições e fábulas.
Lembre-se de que Ellen White não recebeu revelações especiais sobre o período exato do tempo do fim, se seria no século 20 ou 21. Faz sentido em nossa perspectiva concluir que esse culto falso reapareceria hoje, mas para Ellen White, era nos seus dias. Nesse caso, o movimento da Carne Santa era causa e cumprimento da profecia.
Segundo, o ressurgimento desse estilo de culto no culto Adventista parece ser condicionado pela resposta da Igreja às heresias que o fomentavam, assim como outras profecias na Bíblia (Jonas) e do Espírito de Profecia. Se as heresias doutrinárias que estimulavam esse culto caótico não fossem condenadas e removidas de maneira categórica, essas manifestações continuariam a ocorrer na Igreja Adventista e a música se tornaria “um laço” para perpetrar falácias teológicas eum culto espúrio. Ellen White condenou de forma inequívoca os erros doutrinários que estimulavam o falso culto e movimento se desfez.
A experiência da Carne Santa advertiu o Adventismo sobre os perigos de heresias sobresantificação e Espírito Santo que levam ao êxtase emocional e físico na adoração. Felizmente, graças ao conselho inspirado, podemos afirmar com segurança que não há em nosso entendimento doutrinário o pano de fundo para que heresias carismáticas e seu respectivo culto floresçam novamente. Até hoje, mais de 100 anos depois, os excessos do movimento não têm reaparecido.
Atualmente, apesar do zelo de alguns em condenar qualquer nova dinâmica no culto como suspeita, não há evidências de que os excessos do culto caótico em questão estejam sendo reintroduzidos na Igreja Adventista meramente pelo uso da bateria, percussão, guitarra elétrica, contrabaixo ou estilos musicais contemporâneos."
Inteligentíssimo! O centro da profecia foi deslocado para o passado ou colocado em perspectiva condicional, se no futuro!
Infelizmente, intelectualidade qualificada, não reflete em sabedoria:
3a) - Quero deixar bem claro, já em primeira instância que a linha de argumentação empreendida é completamente contrária ao quanto sustentado pelos líderes da Igreja, em seus diversos escalões, bem como por muitos Pastores que já trataram desse assunto. Para ficar apenas nos textos recentes constantes deste blog, cito:
Alguns querem modernizar nossa mensagem e nosso estilo de vida
Pr. Erton Koeler (Presidente da DSA)
O Hinário Adventista é para jovem
Pr. Otimar Gonçalves (Ministerial Jovem DSA)
Quem Cumprirá a Profecia?
Pr. Élbio Menezes (Presidente da Associação Sul Catarinense)
Todos eles colocam a profecia no futuro, incondicionalmente. Poderia citar outros inclusive.
3b) - A maior dificuldade das pessoas que pretendem o "avanço" no padrão de música da IASD aparece quando interfaceados com a profecia de Indiana. Diante da óbvia pergunta, "pode você garantir que esta porta que está se abrindo não nos levará a novas manifestações pentencostais em nosso meio?", a resposta ainda mais óbvia e, sincera, seria, "não sabemos".
Porque não há como se saber. Porque onde não há profecia, o povo se corrempe, bastaria dar uma olhadela para o arraial evangélico.
Ao deslocar-se o foco do cumprimento para o passado, o que fez de forma muito semelhante ao famoso jesuíta que conseguiu desviar os olhares da maioria massacrante do protestantismo moderno das óbvias interpretações acerca da besta que sai do mar, o articulista em primeiro plano coloca em perspectiva que a profecia de Indiana era contemporânea a Ellen White e, ainda assim de forma condicional, o que em última instância atualmente causa o mesmo efeito do arrazoado do citado jesuíta.
Não é de se surpreender que assim como milhares de cristãos sinceros se afastaram do historicismo e agora crendo na fábula do futurismo como regra de interpretação profética ficaram à mercê de não identificarem babilônia, correriam os menos avisados no meio adventista, o risco de verem-se tragados por manifestações de cunho pentecostal em nosso meio, ao se afastarem dos avisos absolutamente cristalinos de Deus através de Sua mensageira, o que se já parece factível com determinados movimentos que podemos observar claramente em nosso meio, quanto mais ao aceitar esta controversa interpretação.
Ainda, e por outro lado, ao entendê-la como condicional, colocamos nas mãos de homens o poder de "evitar" que a profecia tenha seu cumprimento pleno, rompendo inclusive com o absolutamente óbvio paralelo da música no contexto do decreto de morte encontrado em Daniel 3, como já considerado neste espaço ou, ainda, desconsiderando-se as questões atinentes à chamada "Apostasia Ômega", que trazem também a absoluta certeza que nos depararemos no futuro com as chamadas manifestações de cunho pentecostal em nosso meio, em um caráter muito mais severo, inclusive, do que ocorreu em Indiana.
Profecias condicionais não se cumpriram porque homens deixaram de fazer o que deles se esperava, agora, profecias "condicionais" podem deixar de ocorrer porque homens econtraram formas de "evitá-las"?!?!
Mas admito ser engenhoso, realmente engenhoso...
3c) - Sobre a realidade que já nos afeta, apenas a título de exemplo, outros poderiam ser considerados, por pertinentes, talvez o articulista esteja a muito tempo fora do país e não tenha tomado contato com a forma como eventos criados em parques de diversão regados a música "cristã" tenham se desenvolvido ultimamente, com filipetas no melhor estilo das "raves" e com direito a performances de artistas cuspindo fogo no palco das "apresentações".
Mas não há possibilidade nenhuma de jovens acostumados com este tipo de estímulo enveredarem para os contornos relacionados a Indiana... Ou não?
4) - Conclusão:
Serei econômico, uma vez que o texto já ficou mais extenso do que esperava:
4a) - Devemos ter cuidado com o que lemos e com a forma com que lemos. As premissas são importantíssimas para uma correta compreensão de qualquer texto que temos contato.
4b) - Devemos ter cuidado com interpretações de terceiros (inclusive com as minhas neste espaço). Somente Deus é portador da verdade, portanto, tenha cautela com quem se arroga possuir a última palavra em qualquer tipo de assunto, busque o Senhor em primeiro lugar, sem deixar de se aprofundar nos traços pessoais necessários para se avançar um pouco mais no entendimento do ponto de vista do articulista.
4c) - Devemos ter cuidado com interpretações isoladas realizadas a cargo de pontos de vista estritamente pessoais, desalinhados do que a Igreja sempre entendeu e pregou e que, aliás, como visto neste caso, ainda continua pregando.
Deus entre nós levantou uma profeta para nos poupar do estrago que será operado no rebanho nos últimos dias irmãos, confiem em Deus e estarão seguros, ouçam os Seus profetas e prosperareis, porque antes devemos confiar nEle que nos homens.