Não se pode pensar com simplismo sobre a passagem do papa pelo Oriente Médio. São tantos e tão diversos os seus papéis e significados que é preciso o maior cuidado para não se errar demais.
O Vaticano insistiu que Bento 16 vinha ao Oriente Médio como um peregrino, para ver e percorrer os lugares onde se desenrolou a vida de Cristo. Cumpriu seu roteiro de peregrino, mas não foi possível evitar a politização de sua visita. O papa representa a crença e a práxis religiosa de mais de um bilhão de seres humanos que são maioria ou um número considerável em dezenas de países. É chefe do menor Estado em existência, cerca de meio quilômetro quadrado dentro de Roma.
O nome certo é Santa Sé, com menos de mil habitantes, relações diplomáticas e embaixadas em aproximadamente duzentos países, toda a infraestrutura de um Estado e até um pequeno exército. Administra milhares de igrejas e organizações. É arquivo de preciosidades históricas inigualáveis, museu vivo de muitas das maiores obras primas das artes, obras de valores inestimáveis. E tudo isto com um orçamento anual registrando despesa de pouco mais de 300 milhões de dólares, sempre inferior à Receita. O que preserva e mantém são valores intocáveis. É a única religião com uma organização central. O menor poder militar com grande força moral.
Todos os passos viraram símbolos. E o Papa de 82 anos subiu o monte Nebo, no qual Moisés, o líder da libertação dos hebreus da escravidão no Egito, foi compensado com a visão da Terra Escolhida. Tinha 120 anos. Não entrou em Canaã por ter pecado, apesar de ter sido o indivíduo escolhido para subir o Monte Sinai, do qual voltou com os Testamentos para escolher as tribos de gente teimosa para mensageiros da Lei.
O Santo Padre quis repetir para o mundo que a Igreja reconhece laços e vínculos indestrutíveis, raízes, como diria em Nazaré, no judaísmo. A mensagem que se empenhou em transmitir em palavras e gestos, tais como visitando o Muro das Lamentações dos judeus e a Mesquita de Al-Aqsa, construída onde Maomé ascendeu a Deus para receber o Corão, foi a de que o monoteísmo tem um único patriarca em Abraão, primeiro homem a se comunicar com Deus. Veio reconstruir as pontes que vinculam as religiões. As Pontes para a Paz, como qualificou sua missão.
Em momento algum esqueceu. Viu seu povo, viu sacerdotes muçulmanos e rabinos judeus. Numa mensagem pouco destacada, descreveu o drama dos nossos dias. A internet é um poderoso meio de aproximar povos e pessoas, mas também um instrumento imensamente poderoso de dividir. É um canal tanto para a compreensão como o desentendimento.
As visitas e encontros foram imediatamente transmitidos para bilhões de seres humanos. Não faltam meios. A força moral real do Santo Padre inspirou apelos de líderes palestinos para que assuma posições mais explícitas em favor da paz. E o apelo que lhe fez Bibi Netanyahu, chefe do governo de Israel, para extirpar o antissemitismo renascente e condenar a retórica do presidente do Irã de promoção da destruição do Estado de Israel, adotando o exemplo de Hitler, cujo genocídio de judeus pôde ver exposto em sua visita ao Memorial do Holocausto.
Apreendeu desta peregrinação a incrível ignorância das fés, até entre lideranças. Ignorância como raízes de preconceitos e divisão que a globalização não considerou. A questão de como superá-la é hoje mais urgente. O choque de civilizações que os meios de comunicação fortalecem são cada dia mais violentos e sangrentos.
Fonte - Último Segundo
Nota DDP: Meios de comunicação, como este blog, estão com os dias contados.
Ora vem Senhor Jesus.