Ontem, num calmo domingo em Copenhagen, na Dinamarca, sob um sol que quase não se põe nesta época do ano, mal sabiam os tranquilos ciclistas o que acontecia no centro de congressos da cidade, o famoso Bella Center. Al Gore que saiu de uma desajeitada situação de ex-vice-presidente e candidato derrotado às eleições americanas, hoje, do alto do seu prêmio Nobel, transformou-se na mais importante voz deste mundo em transformação.
Sentado ao lado de Sua Majestade Margrethe II, Rainha da Dinamarca, e do Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, não poderia haver mais circunstância em um ambiente cuja austeridade é esperada. Afinal ali está reunida a fina flor da elite mundial das empresas com representantes de governos e do mundo multilateral para preparar a agenda do mundo corporativo para a COP 15 (Conferência Mundial Sobre o Clima das Nações Unidas) que irá se realizar neste mesmo espaço em dezembro.
O evento promovido pelo Copenhagen Climate Council, chamado de Cúpula Empresarial de Mudanças Climáticas, tem como objetivo preparar a agenda empresarial para dezembro. O objetivo é que ela possa contribuir para aproximar governos em divergências ainda importantes para que a COP 15 em Copenhagen surja como a Conferência que fundamentará as bases de um novo ciclo de desenvolvimento pautado pela baixa emissão de carbono.
Foi neste encontro e com este espírito que Al Gore iniciou a sua fala, logo após a abertura do Secretário Geral da ONU, que francamente, mais parecia um mestre de cerimônias. Ban Ki- moon não consegue deixar de ser anódino mesmo quando tantos interesses estão em jogo.
Gore pontuou a tripla crise - a climática, a econômica e a de segurança energética - como resultantes de uma mesma causa: a profunda dependência que a humanidade tem de energia fóssil (não disse, mas deveria, daquela parte da humanidade que tem acesso a ela...). Disse que o grande imperativo é sair da dependência de energias fósseis para as infinitas fontes de energia limpa e renovável do Sol, dos ventos e da energia geotérmica. Falou dos muitos exemplos nesta mesma direção como a da Dinamarca que já tem 25% de sua energia em base éolica ou mesmo das recentes medidas do Presidente Obama que estabeleceu metas de redução de emissões para a indústria automobilística e o cancelamento literal da construção de plantas termoelétricas movidas a carvão. Disse ainda que é indispensável que se crie valor para a mitigação de CO2, pois um gás invisível e inodoro dificilmente será reduzido sem compensação econômica.
Gore também pontuou a crescente coragem e determinação do governo Obama de transformar os Estados Unidos independente de energia fóssil até 2020. Comparou a recente fala de Obama quando das metas de redução das emissões a de Kennedy no início da década de 60 sobre colocar o homeme na Lua até o final da década. Reiterou a necessidade de ousar e sonhar para que o desafio da energia sustentável toque o imaginário das pessoas, sem o qual, não haverá o esforço necessário.
A fala de Gore foi enfática e determinada. Também aproveitou para reiterar um dos principais temas defendidos pelos EUA para dezembro, ou seja, mecanismos de mercado como parte da nova regulação de serviços ambientais. Mas o mercado que ele se refere, seria um novo mercado, eivado de valores éticos e humanos. Como? Finalizou dizendo que esta geração será julgada pelas próximas e se elas nos acusarem de não termos tomado as ações que nosso tempo nos convoca, teremos falhado lamentavelmente.
Neste aspecto tanto Ban Ki-Moon como Al Gore deram o tom: Copenhagen terá que ser o marco zero de uma nova economia e visão de desenvolvimento. Estabelecerá as bases para as regras de mercado e de regulação governamental e multilateral para os próximos 20 anos e isso tem que ser feito este ano sob pena da coesão política conseguida até aqui fragilizar-se e tornar tudo muito mais complicado. De fato, as mudanças climáticas não tem esperado em sua perigosa escalada.
Apesar do bom início, as lideranças empresariais presentes não pareciam estar a altura do debate. Limitaram-se a expressar concordância com o imperativo da economia verde, mas não conseguiam dizer qual era a agenda do mundo dos negócios. O debate dos CEOs foi sofrível. Considerando-os parte da poderosa elite mundial que será determinante para a mudança, é preocupante.
* Ricardo Young é presidente do Instituto Ethos e está em Copenhagen e participa da reunião que definirá a agenda de discussões da COP 15 (Conferência Mundial Sobre o Clima das Nações Unidas)
Fonte: Época Negócios
"Para salvar o futuro, temos tudo de que precisamos, exceto a vontade política. Temos de fazer neste ano, não no próximo", repetiu [Al Gore]. Último Segundo
NOTA Minuto Profético: Não acredito que os EUA vão alterar sua dependência dos combustíveis fósseis da noite para o dia, até porque isso envolve interesses geoestratégicos (leia-se, desculpa para invadir e dominar o Oriente Médio e a Ásia Central). No fundo, essa questão tem mesmo a ver com a limitação das liberdades civis patrocinada pela elite globalista. No olho do furacão, vai mesmo pipocar a Lei Dominical como "fórmula mágica" para resolver os problemas do mundo: algo que os ocultistas e os guardadores do domingo vão aplaudir de pé... O fim se aproxima...