quarta-feira, 26 de março de 2008

A irresponsabilidade ecológica é um problema moral


«Teo-Ecologia» é o tema de um ciclo de três conferências que Carlos Borrego vai proferir no Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro. A propósito deste ciclo, o Correio do Vouga pediu ao professor da Universidade de Aveiro que explicasse o que é a Teo-Ecologia.

CORREIO DO VOUGA - O que é a Teo-Ecologia?

CARLOS BORREGO – Teo-Ecologia é uma palavra que não entrou ainda no léxico comum, mas que pretende traduzir uma ideia do Papa João Paulo II e já aflorada pelo Papa Bento XVI. De facto, por reverência à Criação, o Papa João Paulo II declarou Francisco de Assis o Padroeiro da Ecologia, em 1979. No tempo de Francisco, este termo não era conhecido, nem os problemas ambientais representavam qualquer ameaça ao planeta Terra. Porém, na visão de S. Francisco, o universo inteiro era uma imensa catedral, onde se mostravam os sinais de Deus. Porque saídas das mãos de Deus, todas as criaturas eram percebidas como irmãos e irmãs. No Cântico das Criaturas fala da Mãe Terra. E esta Terra não era vista na lógica da utilidade. Como tudo tinha origem no Criador, Francisco cultivava a dimensão de reverência para com todas as criaturas. Era a Teo-Ecologia.

Que temas vai abordar ao longo das três conferências?

Tentaremos reflectir sobre conceitos ligados ao desenvolvimento, ambiente e sustentabilidade, como uma política para o Homem, feita de ambição e esperança, onde a fé nos dá a “bússola” da orientação para o futuro. Mas qualquer futuro passa pela consciência do valor da criação e do papel da pessoa humana na construção de um mundo melhor, e pela responsabilidade de todos em contribuir positivamente para esse objectivo, usando os ensinamentos bíblicos (Palavra de Deus). Para tal, todos os pequenos gestos cívicos são importantes para preservar o ambiente e, com isso, dar testemunho evangélico. Vamos, portanto, reflectir sobre este novo paradigma: a ética ecológica ligada à fé cristã.

O cristianismo tem responsabilidades na catástrofe ambiental para onde caminhamos, como alguns dizem, por causa do “enchei e dominai a Terra”?

Parte da resposta está na pergunta anterior. A Bíblia, desde o seu início, mostra-nos que, cumprido a Palavra de Deus, toda a Criação deve ser preservada. Isso passou a ser mais evidente depois do Concílio Vaticano II (mas não nos esqueçamos que S. Francisco de Assis já defendia esta ideia no início do século XIII), com a mensagem de que os cristãos leigos têm o direito e o dever de intervir. O Homem, estando no mundo, tem obrigação de o “conservar” bem.
É difícil perceber essa acusação, quando a mensagem do cristianismo vai toda no sentido oposto à dita acusação!

É possível ser cristão e não ser ecológico, não ter preocupações ecológicas?

Não, sem rodeios. A irresponsabilidade ecológica é no fundo um problema moral
, baseado num erro antropológico, que se produz quando o ser humano se esquece que a sua capacidade para transformar o mundo deve sempre respeitar o Plano Divino.

Como pode o cristianismo ser mais verde?

A Fé em Jesus Cristo, que se definiu a Si mesmo como o “caminho, a verdade e a vida”, exige aos cristãos o esforço de se empenharem mais decididamente na construção de uma cultura humanista, inspirada no Evangelho, que reponha o património de valores e conteúdos católicos. É esta Fé que se pede aos cristãos na defesa do Ambiente, nos pequenos e grandes gestos do dia a dia, como veremos ao longo das conversas que vamos ter nos 3 dias do Ciclo de Conferências. (28 de Março, 4 de Abril e 11 de Abril )

Fonte - Ecclesia

Nota DDP:
São tantas inferências que corre-se o risco de se perder o contexto das afirmativas produzidas. Vou tentar alinhar algumas que abstraí do texto:
- É óbvio que o Vaticano já se encontra engajado no movimento ecológico e isso vem desde JPII e se reproduz em BXVI;
- O aspecto de referência à criação é um aspecto extramente pagão da pregação encampada neste particular, como já debatemos em outras oportunidades;
- A fé, a Bíblia e esta 'nova ética cristã' que se pretende seja encampada serão os nortes deste movimento;
- O entrevistado, de passagem faz referência ao Gênesis para entender por onde passam as soluções do quadro ecológico;
- Nega-se abertamente a qualidade de cristão aqueles que não se alinharem às posições que vierem a ser encampadas;
- O problema é de fundo moral;
- A questão da 'Fé em Jesus', como ponto de ligação entre os cristãos, como definido no texto e como levantado pelo entrevistado tem desdobramentos interessantes, gostaria de tentar analisá-los em um próximo post.
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