terça-feira, 25 de março de 2008

Papa batiza ex-muçulmano


Não há como se entender esse assunto sem antes lembrar da recente notícia que veiculamos neste espaço sobre "Bil Laden adverte União Européia, EUA e o Papa".

É intrigante pensar o tipo de relacionamento que a Sé Papal tem mantido com o mundo muçulmano. "Uma no prego e outra na ferradura", diria o dito popular. É um ato claramente provocativo, não há outra alternativa para se perceber a situação criada.

O jornalista batizado não é um "qualquer" ex-muçulmano, mas um ferrenho pregador anti-islã, como ressaltou um artigo de Folha de São Paulo (assinantes), deixando claro, inclusive, que o batismo foi mantido em segredo até uma hora antes de sua ocorrência.
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Mas na história deste jornalista, o fato não se constitui em novidade. Ele já havia partido em defesa do Papa quando este fez uma palestra na cidade de Regensburg, na Alemanha, que foi vista como depreciativa ao islã e provocou protestos entre os muçulmanos.

De se destacar, ainda, que o Subeditor do jornal "Corriere della Sera", Magdi Allam, disse que o Papa BXVI foi um "instrumento para a sua decisão" e completa: "[O batismo] foi um gesto histórico e corajoso". Para quem vive já há cinco anos debaixo de proteção policial, é realmente um ato único, corajoso e, convenhamos, inclusive pela manifestação de Bin Laden na última semana, completamente desnecessário.
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No dia seguinte ao batismo, o novo converso fez questão de escrever uma carta a seu jornal 'chamando os conversos como ele do islamismo ao catolicismo, a sair à luz publicamente; e à Igreja a ser "menos prudente" para converter a outros muçulmanos.' Disse ainda que foi um encontro com o Santo Padre o que lhe permitiu "ver a luz, por graça divina, como um saudável e amadurecido fruto de um longo processo".
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Não poupou as costumeiras críticas, uma vez que afirmou ter descoberto descobrir que "as raízes do mal são intrínsecas ao Islã que fisiologicamente é violento e historicamente conflitivo".
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Em contrapartida, fez elogios ao Papa: "a quem admirei e defendi, como muçulmano, por seu brilhantismo ao apresentar o indissolúvel laço entre fé e razão como o alicerce da religião verdadeira" além de "me dar pessoalmente os sacramentos", o que se constitui "uma explícita e revolucionária mensagem à Igreja que até o momento foi muito prudente quanto ao tema da conversão de muçulmanos".
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Por fim ainda não se furtou a fazr um chamado explícito: "há milhares de conversos do Islã que são obrigados a esconder sua nova fé" e "a partir do histórico gesto do Papa e meu testemunho, convençam-se de que chegou a hora de sair das sombras das catacumbas".
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Os representantes do Islão, por outro lado, já se posicionaram em relação ao ato. Aref Ali Nayed, um importante membro do grupo de mais de 200 estudiosos muçulmanos que lançaram recentemente fóruns de discussão com grupos cristãos, disse que o Vaticano havia transformado o batismo do jornalista Magdi Allam, nascido no Egito, em "um instrumento triunfalista para marcar pontos". Disse ainda que "O espetáculo todo faz nascer questões genuínas sobre os motivos, as intenções e os planos de alguns dos conselheiros do papa a respeito do islã",
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O interessante é que isso não afeta em tese as relações Vaticano-Islã, uma vez que o próprio Nayed afirmou que "não permitiremos que esse infeliz incidente nos desvie de nossos esforços para elaborar "uma palavra comum" em vista do bem da humanidade e da paz mundial. Nossa base de diálogo não consiste em uma tática de olho por olho, dente por dente."
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O Papa sai cada vez mais fortalecido, até mesmo dos "incidentes" que provoca.
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Como já comentado neste blog, absolutamente tudo que sai do Vaticano tem finalidade absolutamente específica. Neste caso, penso, a proeminência do Bispo de Roma e a clara separação entre o "bem e o mal" é o objetivo final desse teatro todo. Seguindo o raciocíncio realizado no post sobre Bin Laden, que abriu este comentário, o Papa está se colocando do lado da União Européia e dos Estados Unidos e deixando do outro lado os "radicais". Neste diapasão é muito factível pensar que uma grande parte do mundo islâmico, tentando fugir desta nominação, entre no jogo do poder que está se caracterizando.
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