terça-feira, 5 de agosto de 2008

Os EUA e a discussão religiosa

"A emenda sobre oração certamente trará um desafio"

É absolutamente único perceber-se como a discussão religiosa permeia todo o espectro político quando se fala de EUA. Não que isso seja um privilégio do Tio Sam, uma vez que percebemos discussões importantes neste tema também em outras paragens, mas parece que lá, até por força da sua tradição religiosa e principalmente dos valores de sua fundação, as coisas andam mais declaradamente juntas.

Vejam este caso.

A discussão é sobre um projeto acerca de símbolos em torno do "Foundations of American Law and Government" em órgãos públicos. Neste passo, inicialmente o Comitê Judiciário do Senado decidiu pela inclusão dos Dez Mandamentos, da Carta Magna, do Mayflower Compact, da Declaração de Independência, do Star-Spangled Banner, o Bill of Rights, do preâmbulo da Constituição da Carolina do Sul, do lema nacional "In God We Trust" e da imagem da Senhora da Justiça.

Foram votados estes ítens porque em tese eles estariam dentro do quanto previsto na Primeira Emenda da Constituição Americana (Separação estado/Religião), sem portanto, violá-la.

Ocorre que, senadores democratas correram atrás de uma forma de barrar o projeto por força de sua oposição à inclusão dos Dez Mandamentos no contexto. Quando o tema foi à discussão no senado, este grupo produziu emendas que, desvirtuando o texto, serviam de modo a rejeitá-lo como um todo.

Neste contexto, o Sen. Brad Hutto's elaborou uma emenda para incluir a oração do "Pai Nosso" na lista de símbolos. Ele sabia que a proposta inicial era consitucional, no entanto, sabia também que a inclusão de um documento puramente religioso acabaria por tornar o projeto constitucionalmente suspeito, além de criar uma extrema dificuldade aos senadores republicanos em votar contra a oração do "Pai Nosso".

A Convenção Batista do Sul e a Aliança da Família de Palmetto, dois fortes grupos de influência nesta legislação, se posicionaram publicamente contra a inclusão da oração do "Pai Nosso" no projeto, uma vez que já sabiam de antemão que sua inclusão acabaria por destruí-lo.

A emenda passou porque muitos senadores ficaram com medo de serem vistos votando contra a oração do "Pai Nosso". Consequentemente, o projeto passou com as emendas e agora certamente será contestado como inconstitucional por seu aspecto religioso.

O relato acima foi trazido pelo Senador Shane Massey, representante da Carolina do Sul.

Deste quadro todo percebe-se com clareza como temas atinentes aos aspectos religiosos da vida do cidadão americano tomam relevo e se transformam em grandes questões nacionais, levando toda a sociedade para o campo de discussão.

É o caso das "blue laws" vista em alguns posts por aqui. Certamente será o campo de batalha a se configurar por ocasião de leis dominicais no futuro.
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