terça-feira, 28 de outubro de 2008

O papa e a política

A Igreja e a política legislativa

A propósito de várias questões controversas, é frequente ouvir pôr em causa a legitimidade ou a oportunidade de tomadas de posição da Igreja em questões de política legislativa. Aquando da recente discussão sobre o regime do divórcio, houve quem invocasse o facto de estar em jogo apenas o regime civil do casamento, matéria estranha à Igreja. A propósito do aborto, diz-se que numa sociedade pluralista não pode ser juridicamente imposta uma determinada concepção moral de entre várias possíveis. A respeito de outras questões (organização económica ou legislação sobre imigração, por exemplo) também não é raro ouvir (neste caso normalmente a outros qua-drantes) que a Igreja deve abster-se de se pronunciar por se tratar de matérias alheias à sua missão específica.

A Igreja (a hierarquia e os leigos) tem, no entanto, o dever de se pronunciar sempre que a política legislativa envolva opções de alcance e relevância éticos (não, pois, quanto a questões de ordem técnica). E deve fazê-lo à luz da sua doutrina social.
...
Não se trata de pretender impor, em qualquer dos âmbitos, uma visão especificamente cristã numa sociedade pluralista. Trata-se de propor caminhos que conduzam à realização do bem comum (o bem de crentes e não crentes), à luz da razão e da lei natural, aquela lei inscrita no coração humano, independentemente de qualquer fé religiosa.
...
Fonte - Ecclesia

Papa diz que distinção entre religião e política é conquista do cristianismo

Cidade do Vaticano, 27 out (EFE).- O papa Bento XVI afirmou hoje que "se pode dizer que a distinção entre a religião e a política é uma conquista específica do cristianismo e é uma de suas contribuições históricas e culturais fundamentais".
...
"A Igreja está convencida de que o Estado e a religião são chamados a se apoiarem mutuamente, pois juntos servem ao bem-estar pessoal e social de todos".

"Esta cooperação harmoniosa entre a Igreja e Estado - acrescentou - requer de líderes eclesiais e civis que realizem suas funções públicas com uma preocupação indubitável pelo bem comum".
...
Fonte - Último Segundo

Nota DDP: A contínua afirmativa de cooperação Igreja/estado, interfaceada pela ordem jurídica continua sendo uma prioridade do pontífice romano, tendo como base de suas pretensões a doutrina social da ICAR. Vejamos o que a mesma diz no que nos interessa:

O domingo é um dia a ser santificado com uma caridade operosa, reservando atenções à família e aos parentes, como aos doentes, aos enfermos, aos idosos; não se deve tão-pouco esquecer aqueles «irmãos que têm as mesmas necessidades e os mesmos direitos e não podem descansar por motivos de pobreza e de miséria»; de mais a mais, é um tempo propício para a reflexão, o silêncio, o estudo, que favorecem o crescimento da vida interior e cristã. Os fiéis devem distinguir-se, também neste dia, pela sua moderação, evitando todos os excessos e as violências que não raro caracterizam as diversões de massas. O dia do Senhor deve ser sempre vivido como o dia da libertação, que faz participar «da assembleia festiva dos primogénitos que estão inscritos nos céus» (Heb 12, 22-23) e antecipa a celebração da Páscoa definitiva na glória do céu.

Sendo esta uma das "opções de alcance e relevância éticos" que o Papa pretende seja observada pelo mundo para "realização do bem comum (o bem de crentes e não crentes), à luz da razão e da lei natural". O que se espera seja realizado por política legislativa.
Related Posts with Thumbnails