terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Igreja Católica tem que ‘perturbar’

O Vaticano é conhecido como uma instituição autoritária – o centro de poder da Igreja Católica. As autoridades máximas da Igreja formulam posições sobre a vida e a morte que muitas vezes estão muito distantes dos problemas da vida moderna. Em seu livro ‘De Stoel van Petrus’ (A Cadeira de Petro), o escritor belga Bart Demyttenaere oferece um passeio pelos bastidores desta instituição, que apesar da diminuição de fiéis na Europa continua a crescer em outras partes do mundo.

Motivos pessoais
O Vaticano, um estado autônomo de apenas 44 hectares, fica no coração da capital italiana, Roma. Lá vive o atual papa, Bento XVI, líder da Igreja Católica, e lá é definida a política da religião. Cerca de quatro mil pessoas trabalham ali. Demyttenaere entrevistou algumas delas. Ele as questionou sobre seus motivos pessoais para trabalhar para uma instituição que, para quem vê de fora, parece estar muito afastada da vida do dia-a-dia, mas que mesmo assim continua a promulgar posições éticas e morais sobre ela.

Demyttenaere encontrou cardeais e bispos, mas também o webmaster e o alfaiate do papa. Nos bastidores da poderosa instituição trabalha uma variada comunidade. “Há com certeza muita diversidade. Em meu livro há muitas pessoas com opiniões bem diferentes sobre vários pontos, entre eles pontos muito importantes. Isto eu achei surpreendente no início. No final isto também me deixou com uma sensação boa de que a oposição é tolerada ali. Com certeza não é um bloco monolítico.”

Nenhuma crítica
Mas Demyttenaere sabe que a comunicação externa é sempre feita a uma só voz. Um dos funcionários mais altos do Vaticano entrevistados por ele, monsenhor Dumon, reconhece que dentro do Vaticano não há espaço para críticas. Mas mesmo dentro do Vaticano, as posições pouco realistas nem sempre são compreendidas. A estrutura interna do Vaticano é de rígida hierarquia, o que torna as vozes contrárias impossíveis de serem ouvidas, de acordo com Dumon.

A enorme fidelidade dos funcionários é outro ponto importante para que a posição do Vaticano como um todo sempre vença a do indivíduo, segundo Demyttenaere. Portanto, neste sentido, a comparação com modernas empresas multinacionais não funciona. “Eles estão ocupados com a fé, com algo superior.”

Sentimento de culpa
Uma fé que ele pôde ver claramente em alguém como o irmão Schillings. “Ele é um franciscano que viveu uma vida muito turbulenta e há dez anos, em total silêncio, na anonimidade do confessionário, não faz outra coisa que ouvir peregrinos com um grande sentimento de culpa, que vão a Roma especialmente para se confessar. Acho maravilhoso que este homem faça isso. E já há uma década.”

Nos mais altos escalões do Vaticano, a dimensão humana é mais difícil de ser encontrada. Ali, a política e o poder da igreja são mais importantes e a mensagem para o mundo exterior é ‘deliberadamente irritante’.

”O cardeal Tauran, um ex-ministro de Relações Exteriores do papa João Paulo II, e portanto ex-número três do Vaticano, foi muito claro nisso”, conta Demyttenaere. “Vai ser grave quando a igreja não perturbar mais – foi a expressão que ele usou. ‘Temos que perturbar. Jesus Cristo também perturbou muito os homens’. Esta foi sua resposta oficial.”

Misericórdia
O núcleo da crença católica é, de acordo com Demyttenaere, difícil de encontrar. “A enorme misericórdia, compreensão e generosidade – disso eu senti falta. Certamente no discurso oficial, que sempre soa tão rígido.” Mas Bart Demyttenaere sabe, agora que escreveu seu livro, que isto com certeza não é verdade quando se trata de indivíduos.

Fonte - Radio Nederland


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