Em abril de 1975 a prestigiada revista norte-americana Newsweek publicou uma reportagem sobre nada mais, nada menos do que o resfriamento global. Sim, o resfriamento global. Os cientistas ouvidos naquela época alertavam para o perigo real e imediato de uma onda de frio que não pouparia qualquer paralelo ou meridiano, o que teria consequências dramáticas para a agricultura e a pecuária e, logo, para a população de todo o planeta.
Mais recentemente, o atual editor da Newsweek, Jon Meacham, reconheceu que aquela reportagem publicada há mais de 30 anos havia sido “alarmista”. O mea culpa foi feito no editorial da edição que saiu no dia 17 de agosto de 2007, cuja matéria de capa também foi sobre as alterações climáticas, mas desta vez alertando seus leitores para a bomba relógio que estaria no outro lado do termômetro: o aquecimento global.
Aos que poderiam duvidar do aquecimento atual, lembrando que o resfriamento outrora anunciado não passou de um alarme falso, Meacham fez a ressalva de que “nunca houve qualquer coisa que sequer remotamente se aproxime do atual consenso científico de que o mundo está ficando mais quente por causa da emissão de gases de efeito de estufa”.
Pode ser, mas no texto publicado em abril de 1975, a Newsweek dizia que “as evidências que sustentam estas previsões (da onda de frio iminente) começam a se acumular de forma tão massiva que os meteorologistas sequer dão conta de acompanhá-las”. Além disso, o palavreado e o tom apocalíptico usados há três décadas podem soar demasiadamente familiares para os mais cautelosos de hoje: segundo a revista, os cientistas eram “praticamente unânimes” quanto à proximidade de uma nova era do gelo, cuja fome resultante poderia ser “catastrófica” para a humanidade.
É bastante provável, como o próprio Meacham assegura aos seus leitores, que as atuais preocupações com as alterações climáticas estejam mesmo embasadas “no mais seguro terreno científico”, mas a lição que se pode tirar daquela previsão furada que a Newsweek repercutiu — a de que viveríamos todos feito esquimós — é que vale a pena ouvir com atenção, no mínimo com algum respeito, quem destoa de determinados consensos.
No entanto, os meios de comunicação em geral costumam ignorar ou tratar com desprezo aqueles que na verdade vêm sendo mostrados como os profanos do século XXI: os cientistas e políticos para quem há exagero ao se apresentar as alterações climáticas como o grande desafio a ser enfrentado pela atual e pelas próximas gerações. Seriam os “eco-hereges”. Uma apresentadora do Weather Channel dos EUA defendeu que os meteorologistas que questionam a gravidade do aquecimento global devem ter seus registros profissionais cassados. O padre Torquemada ficaria enrubescido.
E foi assim, oscilando entre o desprezo e a reação, que a maioria dos grandes veículos de comunicação do mundo informou o público sobre a cúpula mundial dos “céticos”, como os antialarmistas gostam de ser chamados, realizada entre os dias 8 e 10 de março na cidade de Nova Iorque. As notícias davam conta de um encontro de “negacionistas”, designação que os próprios cientistas ora na contracorrente rejeitam, por temerem que contestar a catástrofe ambiental que se anuncia seja equiparado a negar o holocausto dos judeus.
A razão que mais se evoca para desqualificá-los parece ser bastante plausível: há denúncias de que receberiam dinheiro de grandes empresas poluidoras para dizerem o que andam dizendo. O Greenpeace acusa a ONG que organizou a cúpula dos “céticos” em Nova Iorque, o Heartland Institute, de ser financiada pela empresa de petróleo ExxonMobile. Já o Heartland informa que apenas 16% do seu financiamento vêm de empresas privadas, e que a maioria delas não pode ser considerada poluidora.
O fato é que tem sido mais fácil questionar sua independência do que rebater seus argumentos, o que pode ser preocupante tendo em vista que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU considera que há 90% de probabilidade de as alterações climáticas serem fruto da queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo. Parece muito, mas havendo dez chances em 100 de o mundo estar cometendo um grande equívoco, talvez fosse o caso de começar a ouvir quem diz que é disso mesmo que se trata: um equívoco.
Talvez esteja mais do que na hora de pararmos de ver os “céticos” simplesmente como vendidos. Afinal, Al Gore fatura 200 mil dólares por cada palestra apocalíptica que faz, e nem por isso é tratado por aí como um “eco-mercenário”. Além do mais, entre aqueles que consideram haver alarmismo quanto ao aquecimento global está gente do naipe de Richard Lindzen, meteorologista do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Jack Schmitt, o último astronauta que pisou na lua, Bjorn Lomborg, presidente do Instituto do Meio Ambiente da Dinamarca, José María Aznar, ex-primeiro-ministro espanhol, e o presidente da República Tcheca, Václav Klaus, que atualmente exerce também a presidência rotativa da União Europeia.
O que eles têm a dizer é basicamente o seguinte: desde o ano 2000 a Terra está passando por um período de declínio, e não de aumento das temperaturas; os ciclos de aquecimento e resfriamento do planeta são normais, não sendo obra do ser humano, mas sim da natureza; e, por fim, garantem que há provas de que o dióxido de carbono não é um poderoso gás de efeito estufa.
São mentiras patrocinadas pela ExxonMobile, ou verdades — estas sim — para lá de inconvenientes?
Fonte - Opinião e Notícia