Bento XVI enviou uma mensagem ao primeiro-ministro britânico Gordon Brown, em vésperas da Cimeira do G20, que decorre Quinta-feira, em Londres. O Papa defende a necessidade de “coordenar os esforços entre governos e organizações internacionais para sair da crise global, sem recorrer a nacionalismos ou proteccionismos”.
Aos líderes das 19 maiores potências económicas do mundo, mais a União Europeia, a carta papal lembra que em Londres estarão os países responsáveis por 90% do PIB e 80% do comércio mundiais.
Bento XVI fala em especial de África, que acaba de visitar, como o continente que mais sofre os efeitos da crise. A mensagem denuncia a realidade da pobreza extrema e da marginalização, lamentando que no Grupo dos 20 a África subsaariana seja representada por apenas um país (África do Sul) e algumas organizações regionais.
“Os participantes deverão reflectir sobre isso, os mais pobres do cenário político são os que mais sofrem com uma crise na qual não têm nenhuma responsabilidade”, aponta.
O Papa assegura suas orações e pede o compromisso dos líderes mundiais para a obtenção de “linhas concretas” que permitam estabilizar os mercados financeiros e sair da crise.
“Ela foi gerada pela falta de ética, por um défice de ética nas estruturas económicas. A crise mostra que a ética não é alheia à economia e que esta não pode funcionar se não incluir a sua componente ética”, indica.
Bento XVI refere também as ajudas a famílias e países pobres: “Todas as medidas propostas para acabar com a crise devem procurar oferecer estabilidade às famílias e aos trabalhadores”.
Neste contexto, o Papa admite temer que a crise “desperte o fantasma do cancelamento ou da redução drástica dos programas de ajuda aos países menos desenvolvidos”. Por isso, pede que a Brown na Cimeira de Londres saia a resolução de respeitar Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
O Vaticano divulgou a carta de resposta do primeiro-ministro britânico, na qual Brown garante que redobrará os esforços para que a cimeira do G20 não esqueça os pobres nem as mudanças climáticas, temas que também preocupam o Papa.
Para Bento XVI, é importante que os participantes na cimeira “recorram aos mecanismos e instrumentos multilaterais existentes dentro das Nações Unidas e das agências ligadas à ONU, para que seja ouvida a voz de todos os países do mundo e para que as medidas e procedimentos decididos no encontro do G20 sejam partilhados por todos”.
Fonte - Ecclesia
Nota DDP: Agora ficou mais fácil de entender a manifestação de Gordon Brown acerca de 'forçar os bancos a retornar aos "valores da família"'. Não se pode perder de vista, ainda, que o mesmo Brown se manifestou no sentido de que 'há um "alto grau de consenso" entre as lideranças do G20 a respeito de um plano de reconstrução para a economia mundial', de onde poderia se subentender que outros componentes do grupo também partilhem da "preocupação" com a família, que é obviamente um mote, uma vez que a única preocupação é o dinheiro.
Esse panorama todo faz lembrar a impressão, a meu ver equivocada, da perda de influência do Vaticano com base na premissa de que o Papa estaria à deriva em seu plano de governo. Parece-me tal entendimento totalmente equivocado. Nada que saia de Roma deixa de ter propósito específico e, as notícias supra transpiram o quanto afinados estão os líderes mundiais, dentre eles o próprio BXVI.