Há meses os cientistas estão olhando para o Sol com um misto de espanto e curiosidade. Não é para menos, ele nunca esteve tão discreto. Pelo menos não nos últimos 100 anos. A pergunta é unânime: Por quanto tempo o Sol vai ficar tão quieto?
Não aconteceram manchas solares em 266 dos 366 dias de 2008, mais de 73% de silêncio solar. Para achar um ano em que o Sol esteve tão tranquilo é preciso voltar a 1913, quando ele teve 311 dias sem apresentar manchas.
Silêncio solar
Já na metade de 2008, alguns cientistas alertavam que os dados estão surpreendendo. Outros, porém, vieram a público dizer que seus colegas estavam fazendo cálculos errados (veja O que há de errado com o Sol?).
Agora, porém, estão todos, preocupados e despreocupados, refazendo seus próprios cálculos. Quem dizia que estava tudo normal chegou a apontar que 2008 marcaria o Mínimo Solar, e que já já estaríamos entrando em uma fase ascendente, rumo ao próximo Máximo Solar, previsto para ocorrer em 2012.
Mas o Sol continua a desmentir qualquer previsão: os primeiros dados de 2009 indicam que este ano pode ser ainda mais calmo em termos de manchas solares do que o marasmo de 2008. Até 31 de Março não haviam sido registradas manchas solares em 78 dos 90 dias de 2009 - 87% de silêncio solar.
Ciclos solares
Mínimos solares ocorrem a cada 11 anos, como parte natural dos ciclos solares, descobertos pelo astrônomo alemão Heinrich Schwabe, ainda nos século XIX.
As manchas solares são "ilhas de magnetismo" de tamanho comparável ao de um planeta, que surgem na superfície solar. Elas são responsáveis pelas tempestades solares, ejeções de massa da corona solar e emissões intensas de raios ultravioleta.
Colocando os números de manchas solares em um gráfico, Schwabe percebeu que os picos de atividade solar eram sempre seguidos de períodos de calmaria, separados entre si por 11 anos. Isto tem sido verdade nos últimos 200 anos. O atual ciclo começou em 1996, ou seja, deveríamos ter atingido o Mínimo Solar por volta de 2007.
Vento solar mais fraco
Medições da sonda espacial Ulysses revelam uma queda de 20% na pressão do vento solar desde meados dos anos 1990 - o menor ponto desde que as medições começaram nos anos 1960.
O vento solar mantém os raios cósmicos galácticos fora do Sistema Solar. Com a diminuição do vento solar, mais raios cósmicos penetram no nosso sistema, resultando em maiores riscos para os astronautas, que não estão protegidos pela atmosfera terrestre. Ventos solares mais fracos também resultam em menos tempestades geomagnéticas e menos auroras boreais e austrais.
Sol menos brilhante
Outras sondas espaciais da NASA também revelaram que, desde o Mínimo Solar de 1996, o brilho do Sol caiu 0,02% no comprimento de onda da luz visível e 6% no comprimento de onda ultravioleta.
Estas variações são suficientes para produzir efeitos importantes porque a atmosfera superior da Terra recebe menos calor do Sol. Os satélites artificiais passam a sofrer menos arrasto, o que pode aumentar sua vida operacional. Por outro, isso também significa que o lixo espacial vai ficar mais tempo em órbita, oferecendo risco para esses mesmos satélites e para todos os que ainda serão lançados.
Se o período de calmaria do Sol durar mais 1 ano, o atual Mínimo Solar superará os mínimos registrados em 1913 e 1901.
Nota DDP: Ver também "A perturbadora condição do Sol".