quinta-feira, 16 de abril de 2009

A grande tomada de poder

- A crise económica global não é acerca de dinheiro – é acerca de poder.
- Como iniciados da Wall Street estão a utilizar o salvamento para um golpe de Estado


por Matt Taibbi


Está acabado — nós [EUA] estamos oficialmente e realmente tramados. Nenhum império pode sobreviver tornando-se objecto de riso permanente, como aconteceu há poucas semanas, quando os bufões que têm estado a dirigir as coisas neste país finalmente deram um passo demasiado grande. Aconteceu quando o secretário do Tesouro Timothy Geithner foi forçado a admitir que ele ia mais uma vez ter de encher com milhares de milhões de dólares do contribuinte a gigante moribunda dos seguros chamado AIG, ela própria um símbolo profundo do nosso declínio nacional — uma corporação que ficou rica segurando o betão e o aço da indústria americana no auge do país, só para destruir-se a perseguir fortunas fantasmas nas mesas de jogo da Wall Street, tal como a nobreza dissoluta dissipava a fortuna da família na decadência do Império Britânico.
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O povo está irritado com esta crise financeira, e com este salvamento, mas não está irritado o suficiente. A realidade é que o colapso económico mundial e o salvamento que se seguiu foram ao mesmo tempo uma espécie de revolução, um golpe de Estado. Eles cimentaram e formalizaram uma tendência política que tem sido uma bola de neve durante décadas: a tomada gradual do governo por uma pequena classe de iniciados em conluio, os quais utilizam dinheiro para controlar eleições, comprar influência e enfraquecer sistematicamente as regulações financeiras.

A crise foi o golpe de misericórdia: Dando virtualmente rédea solta à economia, estes mesmos iniciados primeiro arruinaram o mundo financeiro, a seguir maliciosamente garantiram para si próprios poderes de emergência quase ilimitados para limpar a sua própria confusão. E assim os líderes viciados no jogo de companhias como a AIG acabaram sem um tostão e na cadeia, mas com uma morte em estilo exótico agarrada ao Tesouro e à Reserva Federal — "nossos parceiros no governo", como disse Liddy de um modo displicentemente chocante, como matéria de facto, após o salvamento mais recente.

O erro que a maior parte das pessoas comete ao olhar a crise financeira é pensar dela em termos de dinheiro, um hábito que pode levar a olhar a confusão que agora se desdobra como um enorme prémio-assassino deprimente para a classe da Wall Street. Mas se se olhar em termos puramente maquiavélicos, o que se vê é uma colossal tomada de poder que ameaça transformar o governo federal numa espécie de Enron gigante — uma enorme e impenetrável caixa negra recheada de iniciados em transacções para si próprios cujo esquema é conseguir lucros individuais a expensas de um oceano de inconscientes accionistas involuntários, anteriormente conhecidos como contribuintes.

Fonte - Rolling Stone
Tradução - Resistir
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