sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O atentado sutil

O Brasil está menos democrático desde quarta-feira (26/8). Ninguém notou, ninguém foi para a rua protestar. Alguns jornais registraram e mesmo assim sem comentários.

O problema reside justamente nesta forma, digamos "homeopática", de diminuir os direitos e encurtar as liberdades fingindo que nada aconteceu.

Quando a democracia é atingida de forma abrupta, forte, ostensiva, é possível esperar reações, resistência e até recuos do arbítrio. Mas os cortes nos direitos efetuados de forma sutil, disfarçada, são os mais perigosos porque acostumam a sociedade a dispensar a plenitude democrática.

O atentado à democracia, à isonomia e ao Estado de direito ocorreu no plenário da Câmara Federal na quarta à noite, quando foi aprovada – sob os veementes protestos do PSOL e do PPS – a concordata do Estado brasileiro com o Vaticano conferindo à religião católica uma situação privilegiada.

Na quarta-feira à noite, desapareceu o pouco que restava do Estado laico: a República brasileira deixou de ser secular. A República brasileira tornou-se menos republicana.

Regressão espiritual

A complacência mais grave e ainda mais perigosa manifestou-se na omissão dos parlamentares ligados às diferentes confissões não-católicas, sobretudo luteranas. Não reagiram diante da flagrante injustiça porque o governo prometeu-lhes compensações.

Que tipo de compensação? Como não existe um Estado luterano semelhante à Santa Sé, está excluída a hipótese de outra concordata. A aspiração maior dos evangélicos é não perder o espaço que conquistaram na última década tanto na esfera política como midiática: em outras palavras – as concessões de canais de radiodifusão no Brasil continuarão sendo negociadas em troca de vantagens políticas.

O combate entre a Rede Globo e a Rede Record é fictício, ficcional. A Rede Globo não veicula programas religiosos. A Record, sim. Uma inconstitucionalidade será compensada por outra e nada impede que em segredo seja produzida uma terceira. O fim do Estado laico decidido na Câmara dos Deputados não representa apenas uma regressão em matéria espiritual. Somada à calamitosa situação moral do Senado enfia o país no perigoso caminho da prepotência.

Fonte - Observatório da Imprensa

Nota DDP: Quando terminei de ler o texto percebi que estava todo destacado. É como deve ser entendido mesmo. Fosse levado a efeito por um adventista e teria perdido seu impacto. O estado laico, que já era uma ficção, começa a dar passos largos no caminho de se abraçar com a religião.

Mais do que detectar tal condição, o articulista foi ainda sensível em perceber os movimentos dos outros segmentos religiosos que, para manuentenção de seu "status", usarão seu "silêncio" como "moeda de troca" com a religião predominante.

O palco está sendo montado. Aqui, nos mais de cem países que possuem acordos similares, bem como naqueles em que os mesmos se encontram em andamento, como acontece em Israel, conforme hoje mesmo noticiado.

“Serão promulgadas muitas leis para o governo das nações, com vistas a oprimir; e serão ressuscitadas velhas leis que praticamente se tornaram sem efeito.” (Este Dia Com Deus, pág. 248)

Encha a lâmpada, o tempo parece realmente próximo.

Ver também "Além do limite".


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