segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Interesses econômicos aumentam pressão sobre Obama

Barack Obama inundou bancos quebrados com dinheiro público e deteve, ao menos até agora, o aprofundamento da crise, que alguns temiam ser uma reprise da Grande Depressão dos anos 30. Além disso, iniciou a retirada das tropas americanas do Iraque. As proezas deveriam bastar para manter o seu prestígio político. Entretanto, pegou leve com Wall Street e os ricos, como apontou o economista Joseph Stiglitz, e desistiu do plano de universalização da saúde. A prometida regulamentação rigorosa do mercado financeiro saiu da pauta e, como ainda há graves desequilíbrios nos grandes bancos, seria temerário afirmar que o cenário é tranquilo.

Uma das explicações para boa parte dos retrocessos em relação às promessas e mesmo quanto a projetos já desencadeados é a poderosa ação dos lobbies. Essa força fundamental da política dos Estados Unidos agiu com grande velocidade para torpedear, desmoralizar e paralisar o governo.

Em uma articulação iniciada em outubro, de acordo com o New York Times, os principais bancos recebedores de trilhões de dólares de dinheiro público financiaram a criação de uma organização de lobby dedicada a sabotar a nova regulamentação do sistema financeiro em elaboração pelo governo. O projeto visava substituir a supervisão frouxa do Estado sobre as instituições financeiras catalisadoras da crise por um disciplinamento abrangente do setor.

Os nove maiores participantes do mercado de derivativos protagonistas da crise, incluindo JP Morgan Chase, Goldman Sachs, Citigroup e Bank of America, criaram o CDS Dealers Consortium, uma organização de lobby que definiu como primeiro objetivo lutar contra a nova regulamentação. A fundação do consórcio ocorreu um mês depois de cinco dos bancos que viriam a integrar o CDS Dealers Consortium aceitarem o socorro bancado com dinheiro público.

De acordo com o Centro de Integridade Pública dos Estados Unidos, as 25 principais instituições originadoras das hipotecas subprime ou de baixa qualidade, o estopim da derrocada, canalizaram 380 milhões de dólares para atividades de lobby e contribuições políticas. A maior parte dessas instituições está ligada a grandes bancos americanos.

Ação semelhante ocorreu na área da saúde. O plano do governo de bancar a universalização da saúde para 50 milhões de cidadãos sem qualquer assistência médica, situação que motivou o ministro da saúde José Temporão a sugerir aos Estados Unidos o estudo do SUS brasileiro, foi torpeado por lobbies de seguradoras, hospitais e associações de médicos.

As maiores empresas contrataram, segundo a Folha de S. Paulo, 350 ex-integrantes do governo e do Congresso para atuar junto a deputados e senadores e derrubar o plano. O gasto das empresas com o lobby da saúde é estimado em US$ 1,4 milhão por dia. Obama recuou e perdeu importante parcela de apoio no Partido Democrata.

Metade dos ex-congressistas passam a fazer lobby profissional em defesa de interesses privados variados. Parte dos lobistas se elege e volta do Congresso, no mecanismo conhecido como porta-giratória.

Os interesses defendidos pelos lobistas não se limitam à ação de ex-integrantes do governo e do Congresso. Eles vicejam também dentro do próprio governo. A equipe de Obama tem desde componentes que integraram o Goldman Sachs, co-deflagrador da crise e beneficiado pela injeção de dinheiro público, até vários quadros do governo Clinton, considerado o presidente democrata que mais favoreceu os negócios privados desde Grover Cleveland, que exerceu dois mandatos no final do século dezenove.

Uma parte das dificuldades de Barack Obama em implementar as suas melhores propostas se deve, portanto, às suas próprias escolhas na montagem da equipe. Os interesses dos grupos de negócios e a ideologia conservadora da sociedade americana apresentam-se, hoje, em processo de reforço recíproco acelerado, acumulando nuvens pesadas no horizonte do governo americano.

Fonte - Terra Magazine

Nota DDP: Em outras palavras, "Tudo como dantes no quartel d'Abrantes". Os problemas são os mesmos e os resultados tendem a também serem os mesmos. Veja mais em "Economia dos EUA está no purgatório".


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