Ao intervir para reequilibrar as rendas assim como estimular a economia americana, Obama está buscando tornar a crise o início de uma nova era de políticas progressistas, como escreve Chrystia Freeland. Para os governos na Europa, John Thornhill detecta uma tarefa mais difícil à frente, a de aplacar uma população enfurecida.
No dia da posse, após a eufórica celebração em massa e antes dos bailes a rigor daquela noite, importantes democratas se reuniram para jantar no Park Hyatt Hotel de Washington. Entre eles estavam Paul Volcker, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Lawrence Summers, o futuro chefe do Conselho Econômico Nacional, e três futuros secretários do governo.
Mas a primeira pessoa a falar foi o último ocupante democrata do Escritório Oval - Bill Clinton. E em seus breves comentários, o ex-presidente esboçou uma visão passionalmente otimista das implicações políticas da atual crise. "Nós estamos em um momento chave deste país", exultou o político que ensinou a esquerda americana a vencer eleições na era de Ronald Reagan. "Eu acho que haverá uma maioria progressista neste país pelos próximos 30 anos."
Para as famílias comuns que estão perdendo seus empregos e casas, e para as empresas de Wall Street que estão diante do colapso, a crise econômica parece um desastre natural. A economia, como colocou o investidor Warren Buffett nesta semana, parece ter "caído de um penhasco". Mas Clinton pediu aos seus ouvintes que vissem no cataclisma uma chance única na vida. O presidente Barack Obama e seu governo têm "uma enorme oportunidade", ele disse com um tom de anseio. "Eles terão mais liberdade para fazer isso do que qualquer outra equipe em muito tempo."
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Nem é apenas os fãs de Obama cheios de esperança que vêem na crise econômica uma chance de mudar o clima político nos Estados Unidos. Guerreiros democratas veteranos também veem a oportunidade. "Eu estou no governo há 35 anos e este é o momento mais empolgante. Você realmente sente que está fazendo história", diz Charles Schumer, o senador de Nova York. "Em toda geração há uma eleição sísmica que redefine o papel do governo. Obama tem a chance de criar uma nova geração de democratas."
"Eu nunca vi uma mudança na opinião pública como a que estamos vendo agora", concorda Barney Frank, o influente congressista. Frank acredita que a longa era de "ascensão republicana", que data da eleição de Richard Nixon em 1968, foi substituída por um período de domínio democrata.
Os republicanos também reconhecem que sua era de estabelecer os termos do debate político chegou ao fim. "A única dúvida é se a era Obama durará dois, quatro ou oito anos", diz Newt Gingrich, o ex-presidente da Câmara que está ressurgindo como uma poderosa força intelectual no partido. "A dúvida é se esta é uma nova era ou um intervalo."
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A economia está provocando uma convulsão na política européia. Os governos caíram na Islândia e Letônia; greves ou protestos estouraram na Grécia, Irlanda, França, Alemanha, Reino Unido, Lituânia, Ucrânia e Bulgária. A turbulência financeira abalou até mesmo os postos avançados mais distantes do continente: a ilha caribenha francesa de Guadalupe foi devastada por greves violentas, enquanto a Rússia enviou as tropas de choque da polícia para a gelada Vladivostok para reprimir os protestos de rua.
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Além da economia, há agora uma preocupação corrosiva de que a Europa pode estar apenas no início de um ciclo muito mais turbulento de instabilidade. Enquanto o governo de Barack Obama nos Estados Unidos busca explorar o lado positivo político da crise, os líderes europeus estão mais preocupados em limitar seus aspectos negativos. As democracias da região, assim como as instituições da própria UE, estão sendo testadas como nunca antes.
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Enquanto os governos adotam medidas frequentemente impopulares para salvar suas economias, a revolta está crescendo em consequência do crescente desemprego, reduções salariais, resgates a bancos falidos e desvalorização dos imóveis e dos fundos de aposentadoria.
Juan Somavia, o diretor geral da Organização Internacional do Trabalho, uma agência da ONU, alertou que a inquietação social pode piorar caso os pacotes de estímulo pareçam não beneficiar as pessoas comuns, dizendo: "Há uma sensação de que são bilhões para os banqueiros e centavos para as pessoas".
Por ora, é impossível prever como serão os tremores secundários políticos do terremoto econômico.
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Alguns observadores, como Emanuel Todd, um sociólogo francês, estão prevendo o fim da democracia, ou pelo menos uma erosão significativa, à medida que líderes populistas de direita como Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro da Itália, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, se tornarem mais demagogos e autoritários. Outros preveem uma reversão ao nacionalismo e ao protecionismo, à medida que os países abandonarem o ideal europeu e buscarem defender o seu próprio.
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Talvez o momento político mais explosivo virá quando os europeus se virem diante da conta dos pacotes de resgate atuais. Os governos só conseguirão reequilibrar suas finanças com o corte de gastos e aumento de impostos sobre a classe média em apuros.
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Fonte - UOL
Nota DDP: Menos democracia, mais autoritarismo, em escala global. A Bíblia já havia predito, continuarão os homens duvidando, ou tendo dificuldades em visualizar o tempo e spaço em que vivemos?