Lucas 7:11-17 conta a história de um dos milagres de Jesus.
'E aconteceu que, no dia seguinte, Ele foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidão; e, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: jovem, a ti te digo: levanta-te! E o defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo. E correu dele esta fama por toda a Judéia e por toda a terra circunvizinha.'
Jesus era um missionário incansável; por isso o verso 11 começa por dizer 'aconteceu pouco depois', isto é, ainda não tinha passado muito tempo desde que ele tinha sido confrontado com o mensageiro de um centurião romano cujo servo havia adoecido gravemente, e o havia curado.
Esta foi, provavelmente, uma das primeiras viagens pelas aldeias da Galileia. Naím, não é mencionada em nenhum outro ponto da Bíblia, mas refere-se à atual cidade de Nein, situada a 40Km de Cafarnaum e 8Km de Nazaré. Muito perto desta aldeia, havia um grande cemitério escavado na rocha, que ainda hoje se mantém, embora em ruínas.
Apesar de estar no início do Seu ministério, desde logo a Sua fama era enorme: 'e com Ele iam muitos dos Seus discípulos e uma grande multidão' (v. 11). Antes disto, Jesus tinha já curado o mencionado servo do centurião, um homem com a mão mirrada, um paralítico, um leproso e apresentado o famoso Sermão da Montanha, onde foi escutado por pessoas da Judeia, de Jerusalém, de Tiro e de Sídon (ver. Lucas 6:17).
Ao chegarem perto da porta da cidade de Naím, um outro aglomerado de pessoas surge em cena: um cortejo fúnebre, onde uma outra multidão segue um caixão onde estava depositado um morto.
Aqui vemos um enorme contraste: uma grande multidão segue Jesus, a Vida; e uma outra multidão segue a morte (representada pelo defunto)!
O morto era o filho único de uma mulher. Naquele tempo, o sustento das mulheres era a família; ora, esta mulher já não tinha marido (o v. 12 refere que era viúva) e tinha acabado de perder o último homem da sua casa. Não sabemos se ela estava em condições de ser recolhida por uma outra família, mas o texto bíblico não dá indicações nesse sentido; logo, podemos assumir que ela corria o risco de ficar sozinha, e mais do que isso, abandonada.
Este é também um momento especial no ministério de Jesus: pela primeira vez Ele se enfrenta cara a cara com a morte. Ele era o Criador da vida; por Ele todas as coisas tinham sido trazidas à existência (ver João 1:3). Agora, em pleno exercício da Sua obra na Terra, Jesus era confrontado com o resultado final da queda do homem, que Ele tinha testemunhado cerca de quatro milénios antes.
Qual foi a reacção de Jesus? O verso 13 diz que Ele 'se moveu de íntima compaixão' pela viúva, que era a pessoa ali presente mais afetada por esta morte! (É interessante verificar que o autor do livro de Lucas identifica Jesus como 'o Senhor', denotando desde logo a Sua autoridade divina.)
No entanto, aparentemente, o caso era bem diferente dos anteriores nos quais Jesus tinha estado envolvido: antes, Ele tinha curado doentes; agora, tratava-se de alguém que já não tinha sequer a mínima réstia de vida...
Reparemos que não há registo de alguém lhe ter feito um pedido ou uma súplica; Jesus, por Sua livre vontade, olhou para aquela cena e compadeceu-se com o sofrimento e a dor da pobre mulher.
A compaixão de Jesus não ficou por um simples sentimento interior. Ele exteriorizou isso quando se aproximou da viúva e lhe disse: ‘não chores’ (v. 13).
Vejamos: a mulher tinha todas as razões para chorar, estar desgostosa e em pranto. A sua vida parecia ter terminado ali; além de perder o seu filho, o futuro era-lhe uma grande incógnita e motivo de apreensão. Ela poderia, eventualmente, até pensar que Jesus não estava totalmente consciente da sua situação, que não estava a entender as consequências para a sua vida. E Jesus vem e diz-lhe... 'não chores'?!!!
Contudo, e como sempre, a ação de Jesus nunca está dependente de sentimentos, raciocínios e lógicas humanas.
Destemidamente, Ele enfrenta o defunto, representando a morte, o poder final do pecado. Ele toca no caixão e os carregadores páram, toda a multidão pára.
Naquele tempo, os caixões eram abertos e o corpo repousava envolto em panos. Tocar no morto ou no caixão era sinal de imundície por sete dias (ver Números 19:11). Ninguém jamais ousaria contaminar-se dessa maneira. Por essa razão, aqueles que levavam o caixão pararam, com certeza em espanto por aquele ato tão inesperado da parte do Salvador.
Esta é uma grande lição: quando Jesus entra em ação, tudo à volta perde o valor e importância. Tudo o quanto nós julgámos como certo deve ser repensado segundo aquilo que Jesus traz e o que Ele vem ensinar.
Então, desafiando as leis naturais que os homens tinham como certas, Jesus volta-se para o morto e ordena: ‘levanta-te!’ O Autor da vida ousava dar uma ordem a um cativo da morte! Aquele cuja mão tinha definido a criação em cada pormenor, estava ali recriando algo que tinha sido destruído pelo pecado (ver Romanos 6:23)!
À ordem da voz de Deus, o homem que estava deitado jazendo morto, ergue-se e sentando-se, começa a falar com os presentes!
A morte não teve poder sobre o Criador da vida! O choro transformou-se em riso; a dor em gozo; a tristeza em alegria! Por essa razão tinha Ele tinha dito à viúva: ‘não chores’!
Jesus está sempre a ver mais além do que aquilo que a visão humana pode atingir. Onde o ser humano vê tristeza e dor, Jesus vê uma oportunidade de demonstrar que Ele, e só Ele, pode resolver os nossos problemas mais profundos!
Todos os presentes ficaram espantados (v. 16). Quando conseguiram recuperar do choque e admiração causados pela cena, glorificaram a Deus pelo que tinham testemunhado. Mas mais ainda, não ficaram apenas pelas palavras; eles abandonaram o cortejo fúnebre e foram por todo o lado testemunhando em favor de Jesus (v. 17)! Isto é, conhecendo a Jesus, deixaram a multidão fúnebre que tinham vindo a seguir e engrossaram as fileiras da multidão que seguia o Salvador!
Como é que podemos hoje glorificar a Deus? Simplesmente escolhendo a qual das multidões nos queremos juntar: a multidão que segue Jesus, Aquele que pode dar a vida eterna, ou as multidões que se arrastam tristemente pelo mundo, seguindo a consequência maior do pecado, a morte, e todas as coisas que a ela conduzem!
O mundo atual tem tantos perigos e tentações mesmo para o fiel crente, que por vezes se torna difícil discernir qual a multidão que é liderada por Jesus. No entanto, algumas perguntas podem ser respondidas para percebermos bem a que multidão pertencemos:
a) Quanto tempo ocupo diariamente estudando a Bíblia?
b) Que outras leituras escolho para alimentar a minha mente? (Romances? Novelas?)
c) Que tipo de programas assisto na televisão, que hoje está carregada de violência, imoralidade e pecado?
d) Quem são os meus amigos? Que tipo de companhia são eles para mim? (ver Salmos 1:1)
e) Qual a alimentação que escolho para mim?
f) Como está a minha frequência e envolvimento na igreja? Ou sou apenas mais um número nos bancos da igreja, somente para a estatística?
Se a conclusão é que estamos no caminho errado, Deus quer convencer-nos da decisão que precisamos tomar: mudar de multidão!
Filipenses 4:8 diz 'quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai'.
Filipe Reis
Fonte - Nisto Cremos