terça-feira, 17 de março de 2009

Intemperança é pecado?

Por conta de uma agradável conversa no último Sábado à tarde, surgiu uma questão que se estendeu para a semana: "Comer carne é pecado?". Como a questão da carne sempre se constitui como último argumento daqueles que se demonstram resistentes à Reforma de Saúde, muito embora esta seja apenas uma pequena parte daquela, mas é sempre colocada na frente, com o intuito claro de tratando a questão de forma reducionista cercear sua consideração substantiva, trago algumas idéias que talvez possam ajudar neste tema.

Para melhor entender o artigo, onde se lê carne, poderia se proceder a substituição por qualquer alimento ou procedimento constante do Espírito de Profecia que tende a violar as leis naturais de saúde assinaladas por Deus e, que comprometem nosso relacionamento com Ele, conforme segue:
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Façamos primeiramente um paralelo sobre o que o Espírito de Profecia define explicitamente sobre a questão do pecar no processo de alimentação:

"A complacência com o apetite antinatural, quer seja chá, café, fumo ou álcool, é intemperança e está em guerra com as leis da vida e da saúde. O uso desses artigos proibidos cria no organismo um estado de coisas que o Criador nunca Se propôs que nele houvesse. Essa complacência em qualquer dos membros da família humana, é pecado. ... O uso de alimento que não produz bom sangue, é procedimento contrário às leis de nosso organismo físico, e constitui violação da lei de Deus. A causa produz o efeito. Sofrimento, enfermidade e morte, são a penalidade certa da complacência." (Carta 123, 1899)

"Tomar chá e café é pecado, condescendência prejudicial, que, como outros males, causa dano à alma." (Carta 44, 1896)

No entanto, ele (EP) também afirma, alinhando café, chá e carne:

"Os alimentos cárneos prejudicam o sangue. Cozinhai carne com condimentos e comei-a com requintados bolos e tortas e tereis má qualidade de sangue." (Ciência do Bom Viver, p. 387)

"O chá, o café e os alimentos cárneos, produzem efeito imediato. Sob a influência desses venenos, o sistema nervoso fica estimulado, e, em certos casos, momentaneamente, o intelecto parece revigorado e a imaginação mais viva. Como esses estimulantes produzam no momento resultados tão agradáveis, muitos chegam à conclusão de que realmente deles necessitam, e continuam a usá-los." (Conselhos Sobre Regime Alimentar, p 427)

Café e chá importam em pecado, produzem mal sangue e violam a Lei de Deus, mas carne que produz os mesmos efeitos, não?!?! Eu penso que em seu pensamento, Ellen G. White tencionava ir um pouco além do "ser/não ser" pecado.

Eu afirmaria, que o consumo destes ítens pode não estar diretamente ligado à condição de pecado, "strictu sensu", mas certamente se encarregam de facilitar o caminho ao mesmo, "lato sensu", seja pela degeneração física, seja pelos efeitos intelectuais, seja pelas consequências espirituais. Vejamos, e.g.:

- Degeneração física: Destruição do templo do Espírito Santo (pecado?) - I Cor. 6:19 e 20
- Degeneração mental: Bloqueio das nossas máximas capacidades cognitivas (pecado?) - Rm 12:1-2
- Degeneração espiritual: Constante desobediência aos conselhos de Deus na área de saúde (pecado?) - Ex 15:26

Sem levar em conta ainda o descumprimento da missão:

"A reforma de saúde, foi-me mostrado, é parte da terceira mensagem angélica, e está com ela tão intimamente relacionada como está o braço e a mão com o corpo humano. Vi que nós como um povo precisamos fazer um movimento de progresso nesta grande obra. Pastores e povo precisam agir em harmonia. O povo de Deus não está preparado para o alto clamor da terceira mensagem angélica. Eles têm uma obra a fazer por si mesmos, e que não podem deixar para que Deus a faça por eles. Ele deixou esta obra para que eles a façam. É uma obra individual; uma obra que não pode ser deixada para outro. "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." II Cor: 7:1. A glutonaria é o pecado prevalecente neste século. O lascivo apetite torna homens e mulheres escravos, obscurecendo-lhes o intelecto e diminuindo-lhes a sensibilidade moral a tal ponto que as sagradas e elevadas verdades da Palavra de Deus não são apreciadas. As inclinações inferiores têm dominado homens e mulheres." (Conselhos Sobre Regime Alimentar, p. 32)

O mesmo raciocínio haveria de ser aplicado a todos os demais fatores de "alimentação" do nosso ser, ou seja, pelos demais sentidos humanos:

"Todos devem vigiar os sentidos, do contrário Satanás alcançará vitória sobre eles; pois essas são as avenidas da alma." (Testimonies, vol. 3, pág. 507)

"Temos uma obra a fazer a fim de resistirmos à tentação. Aqueles que não querem ser presa dos ardis de Satanás devem bem guardar as entradas da alma; devem evitar ler, ver, ou ouvir aquilo que sugira pensamentos impuros." (Mente, Caráter e Personalidade, V.1, p. 107)

Enfim, parece-me que não há como se separar uma coisa da outra (intemperança/pecado), as partes se interligam e se intercomunicam, como aliás, toda a estrutura do ensino da nossa amada Igreja. É necessário, portanto, contarmos com definições claras nestes campos para podermos definirmos o grau de relação entre intemperança e pecado.

Como eu sempre gosto de dizer, a mesma maravilhosa graça que nos salva, é aquela habilitada para nos santificar, rejeitar a ação da segunda é tão grave como não aceitar a plenitude da primeira. Qual é o pecado imperdoável para efeitos de salvação??? Nesse contexto: Poderíamos utilizar o princípio analogamente??? Escavemos um pouco mais:


"É um dever saber como preservar o corpo na melhor condição de saúde, e é dever sagrado viver à altura da luz que Deus graciosamente tem dado. Se fecharmos os olhos à luz pelo temor de ver os erros que não desejamos abandonar, nossos pecados não são por isto amenizados, mas agravados. Se a luz é evitada num caso, será desconsiderada noutro. Violar as leis de nosso ser é tão pecado como quebrar um dos Dez Mandamentos, pois não podemos num caso como no outro deixar de quebrantar a lei de Deus. Não podemos amar o Senhor de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso entendimento e com todas as nossas forças enquanto estivermos amando nosso apetite, nossos gostos, mais do que amamos o Senhor. Estamos diariamente reduzindo nossa força para glorificar a Deus, quando é certo que Ele pede toda a nossa força, todo o nosso entendimento. Mediante nossos hábitos errôneos estamos debilitando o sustentáculo de nossa vida, e no entanto professando ser seguidores de Cristo, preparando-nos para o toque final da imortalidade. (Testimonies, vol. 2, págs. 70)

A resistência à diretiva Divina é que estabelece a condição de pecado!
Agora, depois de tudo isso, respondendo à pergunta título do post, eu diria: Depende.


Depende do quê? Do conhecimento. Da capacidade de compreensão. Do nível de relacionamento com Deus. Mas uma coisa é certa, o Espírito só pode agir sob a autorização humana. A pergunta correta, penso, talvez seja esta:

"Qual é a vontade de Deus neste assunto para a minha vida?"


A resposta faz toda a diferença sobre os resultados. Pois servimos um Deus quer nos manter perto dEle, porque nos ama, porque sabe o que é melhor para nós, porque sabe como nos manter fora dos domínios do inimigo.
Porque Seu maior objetivo é nos salvar.

"Grande parte de todas as enfermidades que afligem a família humana, resulta de seus próprios hábitos errôneos, em virtude de sua voluntária ignorância ou do menosprezo pela luz que Deus tem dado em relação às leis do seu ser. Não nos é possível glorificar a Deus enquanto vivemos em violação das leis da vida. Não é possível ao coração manter-se consagrado a Deus enquanto se tolera a concupiscência do apetite. Um corpo enfermo e um intelecto desordenado em virtude de contínua tolerância para com a nociva concupiscência, torna impossível a santificação do corpo e do espírito. O apóstolo compreendia a importância das condições saudáveis do corpo para a bem-sucedida perfeição do caráter cristão. Diz ele: "Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." I Cor. 9:27. Ele menciona os frutos do espírito, entre os quais está a temperança. "Os que são de Cristo crucificaram a carne com os seus vícios."" (Health Reformer, março de 1878)

Que Deus nos habilite a enveredarmos neste caminho que Ele há muito já nos convida e, principalmente, que não sejamos pedra de tropeço para nós mesmos e para aqueles que ainda não atentaram para esta realidade. Que possamos de alguma forma sermos usados por Ele na pregação desta importante mensagem para o nosso tempo.

E que toda a honra e toda glória seja somente deste Maravilhoso Deus que servimos.
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