“E ao anjo da Igreja que está em Laodiceia, escreve: assim diz a Testemunha Fiel e Verdadeira, o Princípio da criação de Deus: Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem és quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” Apocalipse 3:14-16
Este trecho é retirado da mensagem profética à igreja de Laodiceia, contida nos últimos versos de Apocalipse 3, que é dirigida especificamente ao povo que habita a Terra no tempo imediatamente antes da Segunda Vinda de Jesus.
A Palavra infalível começa por afirmar que Deus sabe quais são as obras da Igreja de Laodiceia. Ele conhece exactamente tudo aquilo que cada um de seus membros é e faz. Pormenor algum escapa ao Seu conhecimento (ver Mateus 10:29, 30). Em Isaías 29:15 confirmamos que ninguém se pode pretender ou julgar longe do alcance de Deus: ‘ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras às escuras, e dizem: Quem nos vê? E quem nos conhece?’.
Que avaliação faz Deus dessas obras que esta igreja revela? Que comportamentos e atitudes identifica Ele na sua vida?
Um primeiro ponto fica claro: se Ele conhece essas obras, é porque elas existem; logo, o problema não é a quantidade. O que pode acontecer, é existir algo de errado com essas obras, e Deus ter decidido intervir para advertir e recomendar a Igreja.
As obras às quais Deus Se refere, não são as obras ditas visíveis, palpáveis que esta igreja faz; contextualizando ao mundo actual, e à nossa realidade como Adventistas, Ele não Se refere às escolas, aos hospitais, aos lares para idosos, às editoras e hospitais que temos nem ainda aos desamparados e desabrigados que socorremos. Deus fala aqui das obras espirituais, dos nossos comportamentos e acções, das nossas motivações propósitos e sinceridade de coração.
E, logo nos aponta o problema: as nossas obras não são quentes nem frias – são mornas! Então, surge como lógica a pergunta: o que significam, o que quer Ele dizer com obras quentes, frias e mornas?
Estes três níveis de temperatura são símbolos do comportamento humano – comportamento espiritual. Paralelamente, o Novo Testamento descreve o comportamento espiritual (também) em três categorias:
a) obras da carne;
b) obras da fé;
c) obras da lei.
Será que, logicamente, a cada tipo destas obras corresponde cada tipo de temperatura (quente, frio e morno) denunciado em Apocalipse 3:15?
Em Romanos 7:14 é-nos mostrada a condição humana: “… mas eu sou carnal vendido sobre o pecado.” Paulo quer dizer ‘os meus comportamento são carnais, dependentes da minha condição de pecador’.
Ao longo do Novo Testamento, vemos um paralelismo claro entre carne e pecado. Logo, as obras da carne são o pecado que cometemos. Gálatas 5:19-21 descreve pormenorizadamente algumas dessas obras: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, invejas, bebedices, homicídios, etc..
Se quisermos resumir todos estes comportamentos numa só palavra, poderíamos dizer que estas obras são o pecado, ou seja, o desvio da vontade e propósito original de Deus. Romanos 8:7-8 diz claramente que “…a inclinação da carne é inimizade contra Deus (…) os que estão na carne não podem agradar a Deus”.
Ou seja, as obras que provêem da carne (do pecado, da natureza caída) não podem ser nem produzir alguma coisa boa. Mateus 24:12 vai ainda mais longe ao apontar uma consequência deste comportamento: “e por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará”.
A conclusão é óbvia: o aumento (ou simples permanecer, pactuar com o pecado) conduzirá a um progressivo arrefecimento da condição espiritual.
No Médio Oriente dos tempos bíblicos, a parte clara do dia era conotada com o calor e a parte escura, a noite, as trevas, com o frio. Por isso lemos em Efésios 5:11 “e não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as.” As trevas, ou escuridão, representam o lugar onde as obras e tudo o que lá há é frio. Assim, Deus não poderá dar outra ordem que não seja o nosso afastamento das obras de procedem da carne, essas que têm a sua origem no próprio eu.
Como tal, as obras frias são as obras da carne, resultantes do pecado.
O que serão, então, as obras quentes?
Em Gálatas 5:16-17 lemos: “andai no Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. A carne luta contra o Espírito e o Espírito luta contra a carne.” As obras motivadas pelo Espírito encontram-se em total oposição às obras do pecado.
E como podemos saber que estamos trilhando e executando as obras do Espírito? João 14:12 dá a resposta: “aquele que crê em Mim, fará as obras que Eu faço.” O crer, ter fé, andar pela fé (isto é, fazer as obras da fé), acontece quando o Espírito de Deus habita e toma conta do ser. Não mais as obras serão dos homens, mas serão as obras de Deus realizadas nos Seus discípulos pelo Seu Espírito Santo. Logo, são obras do Espírito e não da carne, como as anteriores: “vós, porém, não estais na carne, se é o Espírito de Deus que habita em vós” (Romanos 8:9-10).
É sempre Deus quem dirige as obras da fé; por isso elas são quentes. A morte das obras frias da carne acontece quando vida é caracterizada pelas obras quentes do Espírito de Deus. É Ele quem produz essas obras – a nossa actuação passa a ser o resultado da presença de Deus. As obras dirigidas pela fé são o resultado do trabalho de Deus na vida daquele que Lhe entrega a sua vontade, daquele que decide submeter o controlo da sua vida ao poder divino.
Esta é a forma visível, palpável de Deus habitar em cada um. O apóstolo Paulo elogia os tessalonicenses pela ‘obra da vossa fé’ (I Tessalonicenses 1:3) – uma fé que leva à acção.
Resumindo: obras da carne (do homem, do pecado) são obras frias; obras da fé (efectuadas por Deus em nós) são obras quentes.
Finalmente, o que serão as obras mornas, as que Deus repreende fortemente?
Por exclusão de partes, as obras mornas são as obras da lei. Gálatas 3:10-11 diz “todos aqueles que são das obras da lei, estão debaixo de maldição. E é evidente que pela lei, ninguém será justificado.”
A justiça que vem das obras da lei é uma justiça própria, baseada no próprio eu. As obras da lei são a auto-justificação, um raciocínio que conclui (erradamente): cumpro, logo sou apto. São os nossos esforços legalistas, o simples cumprir da lei, dos preceitos e ordens com o objectivo de obter salvação.
As acções exteriores até podem parecer iguais às acções quentes. Mas aquilo que é visível não é necessariamente o pleno reflexo do que vai dentro do coração, nas intenções e motivações, na verdadeira e profunda decisão, pois verdadeiramente é o eu que dirige os passos. Mas, por serem uma mistura de motivações erradas com fins correctos, elas são mornas. É a carne fazendo o trabalho que é correcto, necessário, fundamental, mas que cabe ao Espírito fazer.
Qual é o problema da mornidão? É a justiça própria, aquele sentimento que leva a pensar que a intervenção de Deus não é necessária.
Vejamos como este factor se aplica à Igreja de Laodiceia (que era uma cidade termal, por isso própria para aferir a diferença entre quente, frio e morno). Durante o período em que Nero foi imperador romano, esta cidade sofreu um forte terramoto. Esta catástrofe natural era algo frequente naquela zona, mas a do ano 60 d.C. destruiu a cidade por completo. Roma ofereceu dinheiro para a reconstrução mas os habitantes de Laodiceia recusaram, por serem muito ricos e terem meios para resolverem o problema sem ajuda externa. Eles diziam: ‘nós temos muito dinheiro’.
Por outro lado, pela cidade passava uma das principais vias daquele tempo, de tal forma que se tornou um ponto de convergência das mais diversas rotas de comércio. Por comprarem os melhores tecidos que havia, ali trazidos pelos mercadores, os laodiceanos tornaram-se grandes artífices de vestuário, de tal forma que todos se vestiam sumptuosamente. Eles diziam: ‘nós temos as melhores roupas’.
Finalmente, havia ali algum avanço na medicina. De acordo com o historiador grego Strabo, havia em Laodiceia uma escola médica, na qual leccionava um famoso oftalmologista. Perto dali ficava a Prígia, onde um poderoso ingrediente para loções oculares, o chamado pó da Prígia, também referido em obras de outros autores gregos como Aristóteles (filósofo) e Galeno (médico), era largamente estudado e utilizado. Portanto, Laodiceia tornou-se famosa pelo uso desse unguento para os olhos, que era um tratamento muito avançado para a época. Eles diziam: ‘nós vemos muito bem’.
Repare-se agora no contraste: enquanto o povo diz ‘nós temos muito dinheiro’, ‘nós temos as melhores roupas’ e ‘nós vemos muito bem’, Jesus aponta-lhe o dedo e diz: ‘Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas.’
Que enorme diferença entre aquela que pensamos ser a nossa condição, e aquilo que Jesus nos diz que precisamos: ‘sem Mim nada podeis fazer’ (João 15:5)!
Ellen G. White adverte no livro ‘Aos Pés de Cristo’, pág. 44: “Há os que professam servir a Deus, ao mesmo tempo que confiam em seus próprios esforços para obedecer à Lei de Deus, formar um carácter recto e alcançar a salvação. Seu coração não é movido por uma intuição profunda do amor de Cristo, mas procuram cumprir os deveres da vida cristã como uma exigência de Deus a fim de alcançarem o Céu. Semelhante religião, nada vale.”
Por mais incrível que nos possa parecer, a Testemunha Verdadeira, Jesus, diz que uma vez que estando presos nas obras mornas da justiça própria, seria preferível que fossemos dirigidos pelas obras da carne!
Se fazemos obras quentes, estamos no caminho de Deus – ÓPTIMO! Romanos 2:20 saúda aquele que se entrega ao Senhor sem reservas: “vivo não mais eu mas Cristo vive em mim.”
Se fazemos as obras frias, estamos em pecado – ÓPTIMO, Deus pode entrar em acção para nos salvar! Se em Romanos 7:24 somos justamente condenados na expressão “miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?”, em Romanos 5:20 temos a solução para o nosso problema: “onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus.”
No entanto, se fazemos as obras mornas, pensando que estamos muito bem – PÉSSIMO, Deus não pode fazer seja o que for! Não há uma decisão de arrependimento, não há uma vontade de mudança de rumo, não há um desejo de alterar o comportamento, não há uma entrega ao Senhor; por isso enganosamente dizemos ‘de nada tenho falta' (Apocalipse 3:17)! Então, a trágica consequência é gravemente proferida por Jesus: ’vomitar-te-ei da Minha boca’ (Apocalipse 3:16), em paralelo total com aqueles a quem Jesus dirige as palavras ‘nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade’ (Mateus 7:23) – sim, esses mesmos que em nome de Jesus dizem ter praticado todas as suas obras…
Quando Jesus refere (3:20) ‘eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo’, está a estender o convite a deixarmos o frio ou a mornidão que caracteriza a nossa vida, e nos deixemos aquecer pelo poder que Ele nos oferece! Ele quer remover a nossa inclinação para o que é frio e morno, sem valor espiritual, sem conteúdo bom e verdadeiro!
João 10:27 explica quem são aqueles que ouvem a voz de Jesus: ‘as minhas ovelhas ouvem a minha voz e Eu conheço-as, e elas me seguem’.
‘Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações’ (Hebreus 3:15). O coração duro é aquele que é morno, que não ouve a voz de Jesus. Por essa razão teve Ele de se voltar para a Sua cidade amada e chorar (ver Lucas 19:41)…
Hoje mesmo está na mão de cada um limpar as lágrimas do rosto de Jesus! Hoje mesmo é o tempo de perder a mornidão que nos atinge e cega a mente! Hoje mesmo é o tempo de nos voltarmos para o Senhor com um coração humilde e sincero em busca de Seu perdão, de ouvir a Sua voz e deixá-Lo entrar para cear em nossa casa!
Filipe Reis - Vila Nova de Gaia, Porto, Portugal - Editor do Blog - O Tempo Final
Fonte - Nisto Cremos
Nota DDP: Os negritos são de nossa lavra.