Em outubro passado [2007], durante um encontro em Sevilha, na Espanha, perguntaram ao prêmio Nobel da Paz Al Gore se ele não se cansava de repetir sempre o mesmo discurso. “Não me canso porque sou um homem com uma missão. Porque carrego uma mensagem na qual acredito profundamente”, respondeu o maior porta-voz do movimento ambiental. “Noé foi encarregado de salvar as espécies e isso continua sendo nossa obrigação”, costuma dizer. Para alguns cientistas, elementos messiânicos estão cada vez mais presentes no discurso ambientalista. “A estrutura que Al Gore organizou é quase religiosa, com discípulos que espalham a nova fé pelo mundo, como fez Jesus”, disse o biólogo Miguel Delibes de Castro ao jornal El País. A reportagem atribui o radicalismo aos militantes que associam as mudanças climáticas a um castigo divino, responsabilidade do homem, pecador na essência. “Acreditamos que os problemas devam ser racionalizados, mas a mensagem emocional tem mais apelo”, afirma Delibes de Castro.
Mesmo entre os parceiros de Gore o tema é tratado com um pé na religião. “As religiões se baseiam na crença. E isso também acontece com a mensagem ambiental”, diz Juan Negrillo, um dos embaixadores de Al Gore. “Não podemos tocar, cheirar ou pesar o gás carbônico. Acreditar no aumento das emissões é questão de fé.”
No Brasil discussão no mesmo caminho foi travada entre o colunista e poeta Nelson Ascher e o compositor Arnaldo Antunes na Folha de S. Paulo. Ascher argumentou que culpas são impostas aos cidadãos com base em hipóteses contraditórias e modelos computacionais discutíveis.
Antunes disse que a questão ambiental é comprovada por inúmeras pesquisas científicas. Para Antunes, Ascher estaria “repetindo a ladainha das indústrias poluentes para não alterar suas condutas”. É discussão quente como seu tema central, o aquecimento global.
(Revista da Semana)
Nota Michelson Borges: Tem mais gente percebendo o óbvio... Leia mais sobre ECOmenismo aqui.