terça-feira, 23 de junho de 2009

Comentário ao livro 'Could It Really Happen?'

Nas últimas semanas, fiz a leitura atenta do livro ‘Could It Really Happen?’ (uma análise Adventista de Apocalipse 13 à luz da história e dos acontecimentos atuais) de Marvin Moore.

São 287 páginas do mais puro e honesto desvendar do recente e atual estado do mundo (particularmente ocidental e católico), tendo por base a interpretação adventista para a profecia relatada em Apocalipse 13, quiçá a mais estrondosa revelação histórica de todo este livro da Bíblia.

A perspetiva adventista é a base do livro e, claro, na análise ao conteúdo. Por isso, Moore começa por contextualizar o cenário profético adventista, destacando desde logo o Sábado como sinal identificativo e marcante entre o nosso povo. No entanto, ele não teme referir que mesmo assim, muitas das suas conclusões adventistas poderão ser adjetivadas como… ‘loucas’; se assim for, o simples fato de se cumprirem apenas darão mais força à nossa interpretação e, acima de tudo, à veracidade da Bíblia.

A história, não apenas recente, da Igreja Católica ocupa um lugar de destaque, para percebermos quais as motivações, estratégias, meios, apoios e mesmo dificuldades que a Igreja do Vaticano teve ao longo dos séculos na persecução do seu desígnio de governação mundial (não apenas religiosa, mas também política).

Moore explora essa mesma história em perfeito paralelo com o que João escreve sobre a besta que sobe do mar, e o relato de Daniel 7 acerca da ponta pequena. Como é que o papado era o verdadeiro rei das nações da Europa; como ele punha e depunha monarcas; como estes se prostravam em humilde veneração ao bispo de Roma, sem o qual nenhum poder era exercido no velho continente europeu; como o Vaticano exerceu a sua autoridade religiosa acima das Escrituras, alterando-as a seu belo prazer e conveniência.

No conhecido e impressionante relato da queda (não total) do Papa em 1798, Moore não se limita aos fatos normalmente assumidos, mas pormenoriza as razões profundas – muitas vezes de bastidores – que levaram a que este poder sofresse uma ferida, que não de morte.

Pessoalmente, fiquei ainda mais estupefato ao ler como o papado foi ressurgindo após a queda e, progressivamente, recuperando o poder que outrora deteve – processo este ainda em curso.

A exemplo disso, estão os fatos que atestam como a Igreja Católica desempenhou um papel preponderante na chegada ao poder de figuras como Adolf Hitler (sabia que ele não o teria conseguido sem esse apoio católico?), ou do acordo com Benito Mussolini, resolvendo décadas de atritos entre as duas partes – neste caso, o Papa da época, Pio XI, apoiou o ditador italiano de extrema-direita mesmo contra o próprio partido católico, porque via em Mussolini um forte aliado para derrubar o socialismo e comunismo, em crescimento no leste europeu (ou seja, uma clara dimensão política do Vaticano).

Em tempos mais recentes, foi indiscutível a aliança de João Paulo II com o ex-presidente americano Ronald Reagan, instrumentalizando juntos os sindicatos polacos para derrubarem o comunismo na Polónia – o que, diga-se, representou um enorme sucesso para o Vaticano. Pois bem, Moore não perde a oportunidade de relacionar estes acontecimentos com o biblicamente anunciado recuperar da influência papal.

Lembra-se, caro leitor, do longo exercício papal de João Paulo II, e até mesmo das suas cerimónias fúnebres? Saiba que este livro explica muito bem como é que a profecia ‘e toda a terra se maravilhou diante dela’ se aplica na perfeição ao que sucedeu durante esse período.

Moore usa dois capítulos para abordar o assunto do Concílio Vaticano II. Tremendamente importante, pois é revelador das intenções da Igreja Católica, tendo em vista o recuperar do seu domínio global. Moore desmonta parágrafos e linhas menos claros neste documento para denunciar o real pensamento das mentes no Vaticano. E, provavelmente, já estará a imaginar, uma união entre igreja e estado está claramente implícito nessas mesmas declarações, sem esquecer a proposta renovada para uma suprema autoridade papal, acima de religiões e políticas. Liberdade de consciência e governos democraticamente eleitos são outros direitos ameaçados pela ideologia católica romana, e explicados nesta obra.

Destaco que Moore baseia-se em citações de fontes católicas para chegar a estas conclusões, que assim são devida e indiscutivelmente fundamentadas.

Em relação à besta que sobre da terra, desde sempre por nós Adventistas identificada como os Estados Unidos da América, Moore elabora um raciocínio muito idêntico: recupera a história americana, analisa o seu desenvolvimento ao longo das décadas até ao presente (o livro foi publicado em 2007) e relaciona esses dados com aquilo que entre nós desde sempre foi entendido como sendo a concretização da profecia: o gradual abandono dos valores de separação de igreja e estado, com o simultâneo aumento da preponderância católica romana nas instituições americanas, até que lhe seja cedido o poder.

Para mim foi fascinante fazer esta descoberta. Estas não são as notícias que normalmente surgem na imprensa, pois o livro aborda razões de fundo, muitas vezes de bastidores. Mas Moore tem a lucidez de, mais uma vez, colocar os nomes e fatos nos devidos lugares, atribuindo ao seu raciocínio um escrutínio ao alcance de todos os que lêem a história mundial.

Como é que a América passa de um anti-catolicismo inicial quase intolerante para uma posição onde esta religião consegue ser determinante mesmo no processo de escolha do presidente da nação?! Como é que lugares chaves de governação e poder judicial estão a ser cada vez mais ocupados por católicos romanos? Este livro dá impressionantes respostas a estas questões.

Mais ainda, para mim a maior descoberta foi perceber como a direita religiosa americana, composta por evangélicos e vários outros grupos protestantes, se aproxima inequivocamente dos ideais católicos ao defender a exaltação de valores morais, logo religiosos, há muito tidos como perdidos e seriamente ameaçados pelo deturpado (em relação ao original) estilo de vida americano. Sem nos darmos conta, são movimentos que visam cercar a liberdade de consciência, por imporem um determinado estilo de religiosidade, ainda que os seus propósitos possam ser os melhores.

Voltando à direita religiosa (curiosamente, um dos nomes mencionados nestes movimentos é o de um autor de novelas bíblicas que sugerem… o arrebatamento secreto!), o anelo final desta fação é, imagine-se, a eliminação da separação entre igreja e estado, defendendo os seus proponentes que isso nunca esteve consagrado na constituição americana e suas emendas. Logo, liberdade religiosa seriamente ameaçada… na nação onde desde sempre foi mais consagrada!

Onde é que estas duas histórias (Vaticano e EUA) se intercetam? Juntamente na interpretação Adventista de que os EUA cederão o poder ao Vaticano e toda a Terra terá de lhe prestar vassalagem. É o que Moore detalhadamente explora na última parte do livro. E, como seria de esperar, ele não tem qualquer temor em apontar a observância do Sábado ou do primeiro dia da semana como o ponto fulcral da crise final, na qual todo o mundo estará envolvido.

Finalmente, todas as peças parecem encaixar na perfeição e clamam até nós como que incentivando a nossa fé a confiar cada vez mais nas profecias da Bíblia e na Igreja Adventista do Sétimo Dia, como povo escolhido por Deus para proclamar a Sua última mensagem de advertência.

Tentei não pormenorizar demasiado para não roubar o fascínio na leitura deste volume. Concluirei da mesma forma como Moore foi sugerindo no final de todas as conclusões do livro, e serviu de título para esta excelente obra: ‘poderá realmente acontecer?’ Eu já tenho a minha resposta. Não tarde em procurar a sua!

Fonte - O Tempo Final
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