Um ano após a sua vitória eleitoral, como deveríamos julgar o presidente Barack Obama? Ele instituiu um pacote de estímulo financeiro de US$ 787 bilhões (R$ 1,35 trilhão) e um orçamento de US$ 3,4 trilhões (R$ 5,85 trilhões), socorreu montadoras de automóveis norte-americanas que estavam à beira da falência e apresentou legislações pioneiras - para a reforma do sistema de saúde, a regulação mais estrita de um setor financeiro paralisado e a redução de gases causadores do efeito estufa. Tendo como cenário de fundo o caos econômico e a divisão partidária, o histórico inicial parecerá notável, especialmente se algum tipo de reforma do sistema de saúde for aprovado até o final do ano. Foi um bom começo.
Dito isso, um presidente que prometeu unidade trouxe também discórdia. A ala mais lúcida da direita norte-americana teme que por trás do tom moderado de Obama haja políticas que expandiriam perigosamente o papel do Estado. Os menos lúcidos saem às ruas e, aos gritos, acusam o presidente de aplicar socialismo. Enquanto isso, os críticos à esquerda já enxergam uma oportunidade perdida - daquelas que só aparecem uma vez à cada geração - para enfrentar os bancos e as empresas de seguro saúde dos Estados Unidos.
Por detrás dessas preocupações há dúvidas quanto à posição do presidente. Ou, colocando a questão de forma mais simples: Obama começou a mudar Washington, ou foi Washington que começou a mudá-lo? Eu viajei aos Estados Unidos em agosto para observar de perto o progresso do presidente.
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O primeiro ano de Obama teve mais coisas em comum com o seu predecessor texano do que ele gostaria de admitir. George W. Bush deu início à sua presidência com a intenção de exercitar um conservadorismo mais compassivo. Mas o 11 de setembro modificou a sua rota, fazendo com que ele se engajasse alegremente em uma campanha contra malfeitores. Obama entrou na Casa Branca com a proposta ostensiva de acabar com as divisões políticas e raciais dos Estados Unidos. Mas, assim como o terrorismo mudou Bush, a crise econômica e as realidades de governo também mudaram Obama.
Porém, apesar de tudo isso, as suas primeiras realizações ainda são impressionantes. Mas no ano que vem Obama precisará deslocar-se rumo a uma agenda menos popular de austeridade fiscal, que conte tanto com cortes orçamentários quanto com elevações tributárias. A batalha que está por vir em torno da reforma da imigração fará com que a briga referente às propostas de mudança do sistema de saúde pareça cordial. O partido de Obama poderá perder cadeiras parlamentares nas eleições de 2010. Mas se Obama conseguir a aprovação da reforma do sistema de saúde, e se a economia dos Estados Unidos se recuperar, o presidente enfrentará um Partido Republicano com poucos candidatos plausíveis, e parecerá destinado a reeleger-se facilmente em 2012. Para ele tudo ainda é possível.
Fonte - UOL