As lentas negociações sobre a maneira de se combater o aquecimento global ficam mais complicadas à medida que as preocupações aumentam com a diminuição do ritmo da economia mundial, lamentaram os grupos de ambientalistas e alguns especialistas durante a nova rodada de negociações sobre as mudanças climática realizada em Bangcoc.
Mesmo quando as perspectivas econômicas eram melhores, os Estados Unidos afirmavam que as obrigações do Protocolo de Kioto custariam muito caro aos países industrializados em matéria de redução das emissões de gases poluentes.
Enquanto delegados de mais de 160 países se reúnem já pensando no pós-Kioto em 2012, o contexto econômico atual nas nações mais ricas é alvo de crescente preocupação a respeito das conseqüências das turbulências financeiras e ameaças de uma recessão nos Estados Unidos.
"Não há dúvida alguma de que a aplicação de uma política climática será mais difícil", considera Angela Anderson, que dirige a campanha contra o aquecimento global do Pew Environment Group, com sede em Washington.
"A situação econômica vai radicalizar o debate sobre controles de custos e reduções ambiciosas das emissões" de gases poluentes, previu.
Anderson e outros defensores do meio ambiente esperam que os governantes tenham enfim compreendido os benefícios a longo prazo de um combate sem trégua contra o aquecimento global que poderá ameaçar milhões de pessoas, espécies vegetais e animais.
Alan Oxley, ex-embaixador da Austrália que lidera o grupo pró-globalização World Growth, lembra que várias tecnologias ligadas às energias renováveis ainda não são economicamente viáveis.
Mas este crítico do Protocolo de Kioto está convencido que uma redução significativa das emissões de gases poluentes levaria inevitavelmente a uma redução do consumo, em particular de energia, e que isso afetaria particularmente as economias em desenvolvimento.
"A preocupação com um desaquecimento geral da economia deverá servir de sinal de alerta para os negociadores climáticos que devem levar em consideração a realidade da economia mundial", disse.
Yvo de Boer, responsável pela questão climática da ONU, se disse favoravelmente surpreso pelo fato de que os atores econômicos não ajam mais para minar os esforços contra as mudanças climáticas.
Ele considera que os empresários, conscientes das mudanças que ocorrerão no futuro, querem conhecer ao máximo as medidas contra o aquecimento planetário para que possam fazer bons investimentos.
Nos Estados Unidos e em todo o mundo, o presidente republicano George W. Bush é acusado de ter resistido aos progressos ambientais em prol de ganhos econômicos a curto prazo.
Os três pretendentes a sua sucessão em janeiro de 2009 na Casa Branca - John McCain, Barack Obama e Hillary Clinton- prometem ser mais ativos contra as mudanças climáticas, mas o vencedor será julgado por seus atos.
"Utilizar a economia a curto prazo como uma desculpa para não combater o aquecimento global é oportunismo", considera David Doniger do Natural Resources Defense Council, com sede em Nova York.
"As mesmas pessoas que se opõem a qualquer legislação (sobre o tema) quando a economia estava bem continuam a se opor quando a economia vai mal. Elas são apenas constantes em sua oposição em abordar o aquecimento global".
Fonte - Último Segundo
Nota DDP:
Variante das considerações do post anterior.
Mas vale uma avaliação complementar: A adoção do domingo, e.g., dentro do discurso acima da limitação de emissão de gases x impacto econômico, tem um relevo muito interessante. É que estudos já demonstraram que a interrupção das atividades do comércio aos domingos não implica em desaceleração do consumo, mas obviamente, por tabela, aponta para economia em relação à energia (Vide questão da propaganda acerca da "Hora da Terra"), bem como em relação à mão de obra. O que impede que este conceito em relação ao comércio possa se deslocar também para a produção, possibilitando assim a completa paralisação de atividades aos domingos, facilitando o "combate" ao aquecimento global e, ainda, proporcionando o descanso apropriado dos trabalhadores?